Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Guerra dos EUA

Perspectivas externas pareciam tranquilas para a economia brasileira até a decisão de Trump

O presidente dos EUA, Donald Trump, ao anunciar as tarifas à importação de aço e alumínio
O presidente dos EUA, Donald Trump, ao anunciar as tarifas à importação de aço e alumínio - Leah Millis/Reuters

O Brasil vive um momento de grande perplexidade agravado pela disfuncionalidade do seu sistema político, pelo excesso de judicialização dos atos administrativos e pela visível politização da Justiça num ambiente de brutalidade social. Ela atingiu o seu paroxismo com o trágico assassinato que indignou mesmo os que já haviam naturalizado a barbárie do Rio de Janeiro.

A situação fiscal continua muito difícil, mas o “ambiente” econômico melhora paulatinamente. Temer talvez termine o seu mandato tendo superado a recessão e iniciado a recuperação do emprego com um crescimento cíclico entre 2,5% e 3,0% e uma taxa de inflação de 4%.

Deixará, também, importantes medidas (a reforma trabalhista em particular) que deverão elevar a produtividade do trabalho nos próximos anos. Infelizmente, não conseguiu aprovar a reforma da Previdência, sem a qual o Brasil caminhará para o caos. 

É preciso reconhecer que é o aumento dos gastos com salários e aposentadorias que reduz cada vez mais a imprescindível transferência direta de renda aos menos favorecidos na forma de melhores serviços de segurança, de saúde, de educação, de saneamento e mobilidade urbana, que se processam por meio dos gastos do governo.

O primeiro bimestre deste ano revelou uma importante melhoria da arrecadação fiscal. Há esperança que mesmo com a confusão política o Tesouro terá mais fôlego e criará as condições para um ano fiscal menos agitado. Até recentemente, as perspectivas externas também pareciam tranquilas e estimulantes para a economia nacional.

Esse quadro benigno foi violentamente perturbado pela decisão do presidente Trump de deslanchar uma ofensiva econômica contra a China por causa de suas práticas comerciais e pela conhecida apropriação indébita de propriedade intelectual. Espera-se um aumento das restrições ao investimento chinês nos EUA e o endurecimento no intercâmbio entre os dois países. 

As exigências chinesas para aceitar os investimentos estrangeiros (clara transparência de segredos tecnológicos e comerciais e obrigação de parceria com empresas nacionais) sempre incomodaram os EUA. Não foram resolvidas diplomaticamente na OMC, que também se tornou alvo do voluntarismo irracional de Trump. 

Parece que o plano “Made in China 2025” (em que se acentua o desejo de autonomia da economia da China) foi a gota de água que colocou em marcha a fúria americana. Ela pode perturbar fortemente o comércio mundial e atingir os interesses de nossa economia e o emprego dos brasileiros.

Nesse quadro perturbador, a pior solução é retaliar com irracionalidade. Precisamos de sangue frio, paciência e inteligência.

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