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Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

Descrição de chapéu férias

A bagagem que trazemos das férias

Um descanso de nós mesmos

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Para alguns as férias terminaram. Para outros elas só começam essa semana, na volta às aulas. As cidades vazias atestaram quantas pessoas viajaram, apesar —ou por causa— dos anos difíceis que passamos.

E mesmo para quem ficou, o cenário da cidade vazia não deixa de ser também uma viagem. Voltar de viagem é um estado de espírito em si. Apesar de a sensação durar pouco (essa é a graça), a rotina e o tempo vão desbotando a leveza das férias, na mesma medida em que fazem desbotar o bronze da pele.

Mas alguma coisinha sempre fica na bagagem para nos transformar, coisas que a gente nem percebe que vão marcar e se manter vivas na lembrança. Não são os pontos turísticos, as visitas guiadas, o guarda-sol, as estrelas do hotel. O melhor acontece nos imprevistos, nos sustos, nas surpresas, nas gafes.

Turistas aproveitam o Mirante das Gualhetas, a 45 m do nível do mar, no Guarujá, litoral sul de São Paulo - Eduardo Anizelli - 14.jan.22/Folhapress

As lembranças mais preciosas acontecem justamente no inesperado, nas coisas que não dão certo, porque só férias imperfeitas, que fogem à programação, conseguem ser um descanso de nós mesmos.

O metrô errado, o dia que chove, o wi-fi que não funciona, o despertador que não te acorda. O carro que pifa no meio da estrada, que te obriga a pernoitar numa cidade desconhecida e te faz descobrir que, entre as duas pontas da viagem, pode existir um recheio saboroso.

O show que decepciona, mas o som impremeditado do sax do músico de rua que vem para te emocionar. O sapato que rasga, que te dá de presente justo aquele que você flertava na vitrine. O dia que chove, sem capa nem guarda-chuva, que te ensina como é libertador fazer as pazes com o que vem do céu.

Aproveitar as férias é conseguir se deixar levar, saber que são elas, as férias, que têm que nos mover, não o contrário. É saber degustar o sabor das surpresas entre o planejar e o realizar. É fazer as coisas darem certo, mesmo quando não dão. E lembrar que o centro histórico pode esperar, a história não. Que os monumentos podem esperar, os movimentos não. E que nenhum compromisso tem a mesma urgência que a vida tem.

Quero férias com sotaques errados, caminhos errados, cardápios errados. Só assim, vou conseguir aprender o melhor dos sotaques, conhecer paisagens desconhecidas e saborear novos temperos. Quero férias com poucas fotos, quero deixá-las para as partes perfeitas das férias imperfeitas. Porque o melhor não cabe nas fotos.

Me despeço das férias com preguiça e vontade, ficando com o crédito das imperfeições que levam às melhores experiências, sem medo de chuvas e trovoadas.

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