Aproveite a semana que antecede o Dia das Mães para tirar uma folga e experimentar ser um pouco menos mãe.

Durma noites inteiras, com as portas e os ouvidos fechados. Não acorde na madrugada para conferir se seu filho está respirando. Ele não precisa de você para respirar. Aguente, é só uma semana.

Não sinta a mínima culpa pelo que não deu certo com ele, mesmo que você realmente seja a culpada. Seja egoísta, cuide-se, esteja linda, dê isso de presente ao seu filho. Ele pode não merecer, mas você merece.

Finja não ouvir as birras, as brigas, os chiliques. Passe reto, saia de casa e passe bem, bem longe. Só volte quando a casa estiver silenciosa e ele exausto de tanto gritar sozinho. O futuro dele lhe agradecerá.

Se seu filho te contar uma piada que tenha algum palavrão, esqueça o palavrão e ouça a piada. Lembre-se que, às vezes, você também é uma criança mal-educada. Deixe-o faltar na aula de inglês para assistir futebol, assista ao jogo do lado dele até os 45 do segundo tempo, e dispute o saco de pipoca na porrada.

Deixe seu filho levar a escola do jeito dele, não exija boas notas, não cobre êxito: deixe que ele descubra sozinho o caminho. O compromisso com a escola é dele, não é? Então dane-se se ele não acordar com o despertador, se ele se atrasar para a primeira aula, se não fizer lição de casa.

Deixe-o comer comidas gostosas, gordurosas, cheias de açúcar, até ele passar mal. E veja se ele terá a coragem de repetir a dose no dia seguinte.

Não cobre, não dê broncas, não se afete. Poupe suas rugas. No primeiro sinal de irritação, se tranque no banheiro e tome um demorado banho quente até o seu filho esfriar.

Quando perder a paciência, fuja. Invente uma farmácia, uma reunião, uma amiga deprimida. Gaste suas energias com coisas mais importantes, de preferência que caibam em sacolas.

Deixe seu filho enfrentar uma batalha sem você, mesmo que ele corra o risco de fracassar. Deixe, por uma semana, de ser a sua salvadora e protetora.

Não facilite a vida dele, não arrume sua cama, não tire as roupas do chão, não tire as sementes da melancia, não descasque a banana, talvez já esteja na hora dele descobrir que banana tem casca.

Deixe seu filho sair de casa sem casaco, mesmo quando você estiver com frio. Deixe-o dormir sem tomar banho e sem escovar os dentes. Permita que ele sinta o olfato pelo próprio nariz. Aguente, seja firme, é só uma semana.

Inverta a ordem: faça ele te esperar ficar pronta. Faça ele se sacrificar por alguma vontade sua. Peça massagem, carinho, ouvidos. Faça-o saber o que é dar.

Inverta os números: para um não, fale cinco sins. Não dite, não dê ordens, não sentencie castigos. Esqueça um pouco das pequenas virtudes, para que seu filho aprenda as grandes virtudes. É o que ensina Natalia Ginzburg no seu livro "As pequenas virtudes":

"As pequenas virtudes provêm igualmente do fundo de nosso instinto, de um instinto de defesa: mas nelas a razão fala, sentencia, disserta, como um brilhante advogado da integridade pessoal. As grandes virtudes jorram de um instinto em que a razão não fala, um instinto que me seria difícil dar um nome. E o melhor de nós está nesse instinto mudo, e não em nosso instinto de defesa, que argumenta, sentencia e disserta com a voz da razão."

Tire, nessa semana, férias do seu filho. Quem sabe você chegará no Dia das Mães sendo a mãe que o seu filho precisa.