Descrição de chapéu Família maternidade

Escolas podem comemorar o Dia das Mães? Sim, mas é preciso pensar em inclusão

Objetivo é preparar as crianças para acolher as diferenças e passar pela celebração com menos ansiedade

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Salvador (BA)

Para especialistas, o Dia das Mães pode ser comemorado nas escolas, desde que a instituição acompanhe de perto a demanda de cada aluno e promova debates para falar sobre inclusão e respeito às diferenças. Os colégios se dividem entre manter a tradicional celebração e promover o Dia da Família.

"O Dia da Família é mais atual, mas não há problema em manter o Dia das Mães, desde que seja explicado à criança que qualquer pessoa que é referência materna pode participar das confraternizações", afirma Priscilla Montes, educadora parental pós-graduanda em Neurociência e Desenvolvimento Infantil pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul.

Segundo a especialista, a escola que opta por comemorar a data precisa conversar previamente com os alunos para que a celebração não gere ansiedade naqueles com configurações familiares diferentes da considerada tradicional.

Para especialistas, escolas podem comemorar o Dia das Mães, mas devem estar preparadas para diversas configurações de família - Adobe Stock

Bárbara Catarina, psicóloga infantil e familiar com pós-graduação em Psicologia Clínica focada em crianças e adolescentes pelo Instituto Gestalt de São Paulo, afirma que a data pode gerar irritabilidade, ansiedade e angústia em parte dos alunos. Ainda assim, ela pode ser comemorada, mas é preciso avaliar a melhor maneira de respeitar os diferentes formatos de família dos alunos.

"Mais importante do que definir uma nomenclatura é pensar como o tema vai ser abordado com as crianças, levando em consideração diversidade, inclusão e respeito as mais diferentes configurações familiares". A psicóloga afirma que conversar sobre o assunto é especialmente importante com crianças de 7 a 11 anos, mais sensíveis à temática.

Ao identificar que a data gerava ansiedade em parte de seus alunos, o Colégio 2 de Julho, localizado em Salvador (BA), optou por comemorar o Dia da Família no lugar do Dia das Mães ou correlatos. Segundo Laura Saldanha, diretora pedagógica da escola, a mudança foi bem recebida por alunos e familiares.

"A gente percebeu que havia muito sofrimento entre as crianças porque os formatos de família mudaram. Há casais homossexuais e nem sempre pais e mães podem vir. No Dia da Família, acolhemos todo mundo", afirma.

A celebração ocorre no colégio desde 2015 e não tem data fixa para acontecer. Neste ano, ela está programada para ocorrer no mês de julho. A confraternização é feita com todos os alunos, que vão da educação infantil ao ensino fundamental. Nela, estudantes e familiares fazem juntos diferentes atividades, como oficina de arte e releitura de contos clássicos.

"Marcou o caso de um aluno de inclusão que, percebíamos, ficava mais agitado no período das celebrações. Seus pais eram separados, mas com o Dia da Família conseguimos reunir mãe, avó, pai, madrasta, padrinho e meio irmãos. Ele ficou feliz e nos disse que era a primeira vez que todos estavam juntos", afirma Saldanha.

O colégio Omega, também em Salvador (BA), tentou interromper a celebração do Dia das Mães em 2018. "Houve um protesto geral por parte das mães. Recuamos porque existiu uma demanda do nosso público. As mães adoram", afirma Ana Cláudia Damasceno, supervisora de eventos da escola. Desde então, o colégio continua com a celebração.

Neste ano, a escola prepara uma festa que vai ocorrer entre 3 e 11 de maio para todas as turmas, que vão da educação infantil ao ensino médio. Segundo Damasceno, os professores tratam do tema de maneira cuidadosa em sala de aula, respeitando a história de cada aluno.

Para o cuidador que percebe que a criança ou adolescente é sensível à data, a psicóloga Catarina recomenda o diálogo honesto com a escola. "Liga antes, se antecipa, pergunta o que vai acontecer e como eles vão conduzir a situação", aconselha.

Caso a escola seja mais restrita a negociações, o cuidador pode considerar não levar a criança ao colégio no dia da celebração. "Mas recomendo sempre o diálogo. Quando a criança se sente excluída ou inadequada, sentimentos como ansiedade aparecem. Se ela se sentir acolhida, dificilmente vai ficar mal. É preciso lembrar que o ambiente escolar deve ser lugar de inclusão, amor e acolhimento", pontua.

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