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Advogada, escritora e dramaturga, é autora de 'Caos e Amor'

Contra quem você vai votar?

A preferência pelo bizarro se instalou de vez no Brasil

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A política é o epicentro da discórdia, e as eleições, o epicentro da mentira. No meio do tiroteio, somos obrigados a escolher quem elegemos para odiar e em qual mentira vamos acreditar. Cada um se protege como pode, alguns correm para as trincheiras da direita, outros para as da esquerda; quanto mais fundo se imerge nelas, menos se enxerga a luz.

O mais importante é não ser o que o outro é: a direita quer destruir a esquerda, da mesma forma que a esquerda quer destruir a direita, mas uma não vive sem a outra. A identidade se resume em não ser o que o outro é, ainda que não tenha uma posição clara e positiva sobre quem se é. No fim, no meio de tantos tiros nos pés, fogos amigos e armadilhas, uma bolha vira cabo eleitoral da outra.

Para os que não estão entrincheirados nas bolhas dos extremos (esses não têm conserto), resta escolher o menos ruim, escolher um deles para derrubar o que mais rejeita. Embora o resultado final possa dar na mesma, o processo que leva a essa decisão é bem diferente. E isso afeta o ânimo dos cidadãos.

A mentira generalizada na política já nem é mais considerada mentira - Folhapress

Mentiras fazem parte do jogo. Em todas as sabatinas, debates e comícios, os candidatos distorcem dados e prometem o que sabem que não vão cumprir. Faz parte, a mentira generalizada na política já nem é mais considerada mentira, sabe-se que ela compõe o teatro da vida política. Ela não é só perceptível, é tolerada e até mesmo legitimada.

Quem mente sabe exatamente o que o público quer ouvir e molda suas histórias estrategicamente para ter contornos lógicos e torná-las críveis. Se colar, ela é defendida pelos apoiadores como uma religião —os resultados das urnas são a prova dessa dislexia identitária.

E não adianta ficarmos indignados. Como escreveu Hannah Arendt, a indignação, por si só, não é suficiente para acabar com as mentiras na política. Prova é que os hábitos de pensamento totalitário tendem a persistir mesmo depois do colapso dos regimes que os promovem.

"Quando falamos sobre mentira, devemos lembrar que ela não entrou na política por um simples acidente da pecaminosidade humana; por isso, a indignação moral provavelmente não a fará desaparecer", escreveu Arendt.

No entanto, o ceticismo em relação aos candidatos não impede que apareçam —e se apoiem com fervor— campanhas toscas e inconsistentes. O chão não é o limite: o cenário é mais sombrio. A preferência pelo bizarro parece que se instalou de vez no Brasil.

O "voto protesto" já colocou o Macaco Tião em terceiro lugar, quando o voto era escrito, com cerca de 400 mil votos; elegeu Tiririca como deputado federal com o jargão "pior não fica" (foi o mais votado 2010 e reeleito em 2014, 2018 e 2022); e agora está ameaçando colocar "Paula dentro" como vereadora de Rio Pardo (RS).

Bolsonaro, por exemplo, que entrou no cenário inicialmente como protesto, virou uma força de poder, tornando-se uma liderança popular de fato. Depois, Lula foi eleito, mais pelo ódio a Bolsonaro do que pelo amor por ele.

É um problema de demanda e não de oferta.

Já que somos obrigados a votar no Brasil, a melhor solução seria a alternativa do "voto contra" nas urnas, em vez de ter que votar em um candidato ruim para evitar um pior. No mínimo dormiríamos melhor.

Mas será que sobraria algum candidato que receberia mais votos a favor do que contra?

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