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Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Apegado ao cargo, Bolsonaro insiste no figurino de governante involuntário

Presidente disfarça interesses para repetir a ideia de que o poder é uma missão divina

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A rotina de eventos antecipados de campanha, passeios de moto e comícios golpistas tem cansado Jair Bolsonaro. Num encontro com líderes evangélicos, o presidente disse que não vê a hora de deixar o cargo para "ir para a praia, tomar um caldo de cana na rua, voltar a pescar". Embora passe boa parte do tempo pensando na reeleição, ele insiste no figurino do governante involuntário.

Bolsonaro não explora essa imagem à toa. Atualmente, a maioria da população concorda com ele e gostaria de vê-lo longe do Palácio do Planalto a partir do ano que vem. Mas o presidente trabalha para reconquistar a coalizão de eleitores que lhe deu votos suficientes para garantir sua vitória em 2018.

O objetivo principal de Bolsonaro é despertar nesse grupo o mesmo antipetismo que o impulsionou naquela eleição. Com frequência, ele fala das agruras de ser presidente e diz que não faz questão de ficar no cargo, mas sempre apresenta a vitória da oposição como uma ameaça. "Quem estaria no meu lugar se a facada fosse fatal?", perguntou a pastores e aliados, na terça-feira (8).

Jair Bolsonaro ao lado da primeira dama Michelle Bolsonaro e da ministra Damares Alves em encontro com lideranças evangélicas no Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

O presidente também aproveita o discurso para vender a ilusão de que não tem apego ao poder, apesar das múltiplas regalias que seu grupo político alcançou nos últimos anos. Para completar o quadro, ele apresenta a função como parte de um sacrifício, com tonalidades religiosas. "Quem me colocou aqui foi Deus e somente ele me tira daqui", repete.

O falso desprendimento, o esforço para impedir uma vitória da esquerda e a impressão de que há uma missão divina ajudam Bolsonaro a manipular as expectativas de uma parte do eleitorado. Se está em jogo algo maior do que o próprio presidente, os fracassos do governo deveriam se tornar elementos secundários na hora do voto.

Bolsonaro assume o personagem do presidente desgostoso para sugerir que ele não tem interesses particulares no cargo e que há um projeto que justifica sua permanência no poder. Por trás da fantasia, o que se vê é exatamente o contrário.

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