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Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

Maduro perde neste domingo?

Venezuelano não dá o menor sinal de que aceitará a derrota pacificamente

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A Venezuela elegerá seu presidente neste domingo. Há uma chance razoável de Nicolás Maduro perder a eleição. Daí em diante, só há cenários difíceis.

Maduro não dá o menor sinal de que aceitará a derrota pacificamente. Seu governo cassou candidaturas de oposição. Impediu a entrada de observadores da União Europeia. Desconvidou o ex-presidente (de esquerda) da Argentina Alberto Fernández, que estaria em Caracas como observador para vigiar a lisura do pleito.

Respondendo a críticas de Lula, Maduro abraçou seus irmãos brasileiros de militarismo e ladroagem, mentindo que as urnas brasileiras não são auditáveis. Em resposta, o TSE cancelou a ida de seus observadores à Venezuela.

O venezuelano Nicolás Maduro, durante evento de campanha em Caracas - AFP

Na semana passada, conversei com a jornalista venezuelana Paula Ramón, autora do ótimo "Mãe Pátria"(Companhia das Letras, 2020), que conta histórias da vida de sua família sob o regime bolivariano.

Ramón me chamou atenção para um problema sério desta eleição: nos últimos dez anos, cerca de 7,8 milhões de venezuelanos deixaram o país, fugindo da crise econômica e do autoritarismo. É cerca de 20% da população venezuelana, que o resto do continente tem tido muita dificuldade em absorver.

Maduro fez o que pôde para impedi-los de votar: por exemplo, exige que tenham um análogo de residência permanente nos países em que estão, o que a maioria dos refugiados venezuelanos não tem. A multidão de venezuelanos nos Estados Unidos não votará, porque os dois países não têm relações diplomáticas.

Essa é a única esperança de vitória para Maduro hoje: que o eleitorado tenha ido embora a ponto de induzir as amostragens das pesquisas eleitorais a erro. Se as pesquisas estiverem corretas, Maduro perderá feio.

Se Maduro tentar melar a eleição, não terá vida fácil. Mesmo os governos de esquerda da América Latina, inclusive o brasileiro, devem condenar o golpe. A China não vai se meter nisso, a Rússia tem problemas maiores com que lidar, e ambos parecem confortáveis com uma ordem internacional em que cada potência faça o que quiser na sua vizinhança.

E se a oposição vencer e levar? Bom, aí começa uma transição dificílima, até porque Maduro ainda terá vários meses de mandato.

A Venezuela é uma ditadura militar. Para se manter no poder, o chavismo entregou toda a riqueza do país para seu Exército: militares controlam a produção de petróleo, a mineração no arco do rio Orinoco, tudo que o governo tem de lucrativo. É mais ou menos como o centrão faz no Brasil, mas à mão armada. O Exército venezuelano tem seu próprio banco.

De longe, a melhor esperança da oposição venezuelana conseguir assumir em caso de vitória é um acordo com os militares. Qualquer acordo desse tipo certamente preservará muitos dos privilégios concedidos pelo chavismo. Não é um acordo fácil de fazer, não será um acordo sob o qual será fácil governar.

Torço para que a Venezuela inicie sua transição de volta à democracia com a menor turbulência possível e que volte a experimentar a alternância de poder que lhe faltou nesses 25 anos de chavismo. E torço para que toda a energia que parte importante da esquerda latino-americana gastou defendendo Maduro seja usada em lutas mais justas e com maior probabilidade de sucesso.

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