Descrição de chapéu Olimpíadas 2024 DeltaFolha

Quem são os favoritos e as 'zebras' das Olimpíadas nas casas de apostas

Duda e Ana Patrícia têm 41% de chances de ouro e Rangel Costa é a maior zebra do Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A imagem mostra duas jogadoras de vôlei de praia em um momento de jogo. A jogadora à frente está se preparando para receber a bola, usando óculos de sol e um boné. Ela veste um top verde com a palavra 'BRASIL' em destaque. A jogadora ao fundo está com o cabelo solto e usa uma faixa na cabeça. O fundo é composto por uma rede de vôlei e uma faixa rosa com o texto 'CIRCUITO BRASILEIRO'.

Ana Patrícia e Duda em jogo contra a China em 2023, em João Pessoa - Wang Tiancong - 26.nov.23

São Paulo

O Brasil tem ao menos nove atletas ou equipes no seleto grupo dos que têm grandes chances de ouro nas Olimpíadas de acordo com apostas feitas em sites e analisadas pela Folha.

A dupla de vôlei de praia Duda e Ana Patrícia, Gabriel Medina (surfe), Rayssa Leal (skate), Beatriz Ferreira (boxe), os times de vôlei masculino e feminino, Alison dos Santos (atletismo), Rebeca Andrade (ginástica artística) e a dupla de vôlei André e George aparecem entre os três mais prováveis a brigar pelo primeiro lugar do pódio em Paris em seus respectivos esportes.

A reportagem analisou dados do agregador britânico Oddschecker, que reúne mais de 20 casas de bets online (a maioria europeia) que estão com apostas abertas para os Jogos. Os dados foram obtidos entre os dias 24 e 26 de julho e antes do início das competições que antecederam a abertura, como rugby, futebol e handebol.

No mundo das apostas esportivas, quanto mais favorito o atleta, menor o retorno em dinheiro que a aposta naquela pessoa rende. As chamadas odds são um valor potencial de retorno e ajudam a indicar probabilidades de conquista da medalha de ouro, na visão dos apostadores.

A dupla Duda e Ana Patrícia tem a maior probabilidade de ouro entre os brasileiros, com 41% de chance de vitória considerando agregado das apostas. Elas estão na primeira posição global para o vôlei de praia. A cada libra investida, o retorno é de 2,45 libras (R$ 7,26).

Medina também aparece como 1º de sua modalidade, com 32% de probabilidade e um retorno aproximado de 3 libras a cada libra investida.

Rayssa é outra atleta bem cotada. Seu percentual de 31% pode parecer baixo diante do favoritismo, mas é porque ela divide igualmente as apostas de medalha de ouro com a japonesa Akama Liz. É o mesmo caso de Beatriz Ferreira, empatada no boxe com a irlandesa Kellie Harrington.

Confira a probabilidade de ouro de cada um dos atletas:

A lista tem cerca de 5.000 atletas ou equipes do mundo todo. Por isso, os nomes foram mantidos de acordo com a inscrição do Comitê Olímpico Internacional. Assim, deve-se buscar o nome completo desejado (Beatriz Haddad, em vez de Bia Haddad, por exemplo). Também é possível filtrar o país desejado. A tabela já está ordenada por ordem de chance de vitória.

Os atletas mais promissores do Brasil estão, portanto, na faixa de 30% de chance de vitória. Isso prova que os mais azarados, com menos apostas, são ainda mais impopulares entre apostadores europeus (não significa que há pessoas apostando que irão perder).

Entre eles estão os ciclistas Vinícius Rangel (probabilidade de vitória de 0,07% entre apostadores), Ana Vitória Magalhães (0,11%), o cavaleiro Rafael Losano (0,16%), o time brasileiro do hipismo (0,16%), a tenista Laura Pigosi (0,17%), a remadora Beatriz Tavares (0,19%) e outros 46 que não chegam nem a 1%.

Caso obtenham vitória em suas categorias, podem dar um alto retorno aos apostadores. Nos casos acima, os valores variam de 500 libras (R$ 3.627) a 1250 libras (R$ 9.068) para cada libra apostada. São as zebras, no jargão esportivo.

Considerando todos os países e todos os esportes, as maiores probabilidades de vitória, de forma ordenada, são os alterofilistas chineses Li Wenwen e Liu Huanhua, a georgiana Lasha Talakhadze e os também chineses Li Fabin e Hou Zhihui; aparecem em seguida a nadadora americana Ledecky Katie, que ficou com bronze no sábado (27), a sueca Armand Duplantis, do salto com vara, e a equipe chinesa de salto ornamental.

Já os maiores azarões do planeta são o time de vôlei do Quênia, que retorna 3.626 libras a cada aposta de 1 libra, os ciclistas Geórgios Boúglas (Grécia) e Rui Costa (Portugal), o jogador de badminton Georges Paul (Maurícias), os ciclistas Lucas Kubis (Eslováquia) e Jakob Söderqvist (Suécia), e o time de vôlei da França.

Vencedores com larga vantagem entre os países, os Estados Unidos têm mais apostas de vitórias (71 atletas ou times entre os três mais prováveis a obter ouro em sua categoria), seguidos de França (33), China (31) e Grã-Bretanha (30). Brasil empata com Bélgica em nove.

Paris-2024 será teste para a integridade do esporte

Não é de hoje que apostadores movimentam grandes cifras durante o maior evento esportivo do planeta. Desde os Jogos de Pequim-2008, o COI (Comitê Olímpico Internacional) tem investido em um sistema anti-manipulação de resultado chamado Ibis, sigla em inglês para o "Sistema de Inteligência para Integridade das Apostas". A ferramenta reúne dados de bets e organizações esportivas para fiscalizar lances e ações.

"Todas as casas possuem um histórico de apostas que tende a seguir um determinado padrão, quando se considera eventos de magnitude semelhante", diz Darwin Filho, CEO da casa de apostas Esportes da Sorte.

"Ao verificar uma transação atípica, acende-se uma bandeira vermelha e reporta-se ao provedor, que deve repassar um relatório para as autoridades", acrescenta.

O avanço das bets é visto como um risco para um dos pilares do olimpismo, definidos pelo patrono dos Jogos da Era Moderna, o barão francês Pierre de Coubertin. Desde sua primeira edição, o megaevento tem como valores a amizade, a compreensão mútua, a igualdade, a solidariedade e o fair play, ou seja, o jogo limpo.

Ao longo das décadas, em diversas ocasiões, esses princípios ficaram distantes da realidade. Os Jogos já foram usados como instrumento de ideologia para supremacia racial, como palco de boicotes geopolíticos e mesmo de escândalos envolvendo casos de doping.

Durante o período de classificação para os Jogos de Paris, foram registrados 268 casos com suspeita de manipulação, principalmente em partidas de futebol, o esporte que mais movimenta apostas. A Europa foi o epicentro, com 126 registros, seguida por Ásia (51) e África (25), de acordo com dados do COI.

"O futebol é o carro-chave de qualquer plataforma, em torno de 75% a 80% do total das apostas. Dentro das modalidades olímpicas, os esportes mais tradicionais continuam sendo os mais apostados, casos de futebol, basquete, vôlei e tênis", afirma Rafael Borges, Country Manager da Realsbet.

O monitoramento será reforçado durante as Olimpíadas na capital francesa e executado em parceria com a Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).

A França está habituada a lidar com esse mercado. As apostas esportivas foram regulamentadas no país em 2010. Hoje, 15 empresas atuam legalmente e algumas, inclusive, são patrocinadoras de clubes, estádios e até da Ligue 1, responsável pela organização do Campeonato Francês.

Enquanto o mercado brasileiro iniciou seu processo de regulamentação em 2023, os franceses estão em fase de aprimoramento das leis. Em 2020, um novo órgão regulador começou a atuar para garantir a integridade das apostas.

Em dezembro de 2022, o COI atualizou o seu OM Code PMC (sigla para Código do Movimento Olímpico sobre Prevenção da Manipulação de Competições). Entre as mudanças, especificou que um atleta será investigado e punido não apenas por receber um benefício financeiro para manipular um resultado, mas também por alterar a classificação para os eventos seguintes ao que esteja participando.

Além de estimular campanhas de conscientização para atletas, organizações esportivas são ainda incentivadas a coordenar investigações paralelas a de autoridades policiais.

"Durante as Olimpíadas, trabalharemos em conjunto com uma série de operadores de apostas, associações e principais autoridades reguladoras para trocar informações relevantes sobre padrões de apostas irregulares ou atividades de apostas suspeitas detectadas que possam implicar manipulação", diz Friedrich Martens, chefe da unidade OM PMC.

Paris-2024 será uma espécie de laboratório para o COI estabelecer suas defesas para impedir a contaminação do esporte pelo que pode se chamar de um novo tipo de doping: o financeiro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.