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Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

Descrição de chapéu Eleições nos EUA

Ataques de Trump a Kamala apontam sua masculinidade frágil

Uma mulher não branca, duplamente desfavorecida, ameaça posição de um homem que se tornou totem do patriarcado

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The New York Times

A misoginia tem sido central para a identidade, ascensão e movimento político de Donald Trump, mas agora é central para seu destempero, já que o notável lançamento de campanha de Kamala Harris o frustrou e o deixou nervoso.

Parte de sua marca tem sido que até a grosseria é melhor do que qualquer coisa que sugira feminilidade.

Trump elogia autocratas (homens autocratas masculinos, diga-se), chamando-os de fortes, inteligentes e astutos —ele até já chamou Kim Jong-Un de honroso. Certamente, visões de poder irrestrito dançam em sua cabeça.

Mas quando Trump fala sobre mulheres que de alguma forma desafiam seu poder, sua retórica transborda de sexismo. Nos últimos dias, ele se referiu a Kamala como incompetente, nojenta e não inteligente. Nos bastidores, ele teria se referido a ela, repetidamente, usando a palavra com B. [bitch, que pode ser traduzida como vagabunda].

Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca, durante comício na Pensilvânia - 21.jul.24/AFP

Existe uma conexão? Escrevendo em 2022 para a Foreign Affairs, as acadêmicas da Harvard Kennedy School Erica Chenoweth e Zoe Marks explicaram que o século 21 "está demonstrando que a misoginia e o autoritarismo não são apenas comorbidades comuns, mas males mutuamente reforçadores".

Tendências autoritárias e misoginia surgem juntas, ilustradas, no caso de Trump, não apenas pelas coisas que ele diz para e sobre mulheres, mas também pela forma como sua visão de mundo parece informar algumas de suas posições políticas. Ele esperava, em parte, aproveitar a desigualdade de gênero —seus esforços para desmantelar os direitos reprodutivos e sua aprovação da histeria contra pessoas trans— para um segundo mandato.

A destilação da inclinação patriarcal de Trump é sua mensagem implícita de que o status dos homens, especialmente dos homens brancos, está sob ataque pela subversão de sua versão das normas tradicionais de masculinidade e pela crescente estatura de mulheres e minorias assertivas.

Esta é uma das principais razões pelas quais Kamala o tem desconcertado: Sua campanha —a de uma mulher confiante, otimista e não branca— é mais ou menos a antítese da dele.

Assim, Trump tem reclamado sobre Joe Biden ser uma espécie de cavalo de Tróia para Kamala, forçando Trump a passar meses, em vão, fazendo campanha contra o presidente em vez da vice-presidente. Até agora, ele tem se mostrado rígido e mal-humorado, aparentemente incapaz de conter sua fúria de que uma mulher —esta mulher— está ameaçando uma vitória que ele sentia estar garantida.

De certa forma, Trump tem recorrido a um antigo manual para atacar Kamala, usando clichês sexistas que ele já usou antes contra rivais e críticas femininas —clichês que foram, infelizmente, mais eficazes em 2016 contra Hillary Clinton, mas agora parecem desgastados e o fazem parecer mais patético do que potente.

Na última segunda-feira (12), durante uma conversa confusa com Elon Musk transmitida na plataforma social X, Trump chamou a substituição de Biden por Kamala de fraude e golpe. Isso lembra todas as vezes que Trump sugeriu, ou afirmou diretamente, que Hillary havia roubado a indicação democrata de Bernie Sanders.

Juntando tudo, é difícil não concluir que, na mente de Trump, a única maneira de essas mulheres terem surgido como porta-bandeiras de seus partidos e como suas rivais foi como resultado de algum tipo de trapaça.

E ele quase nunca perde a chance de soltar um de seus comentários sexistas, mesmo ao falar sobre política. Durante o terceiro debate deles, Hillary discutiu como e por que planejava aumentar os impostos para americanos mais ricos como ela e Trump, pontuando sua explicação com: "Assumindo que ele não consiga descobrir como escapar disso."

A resposta dele não foi surpreendente: "Que mulher nojenta."

Como minha colega de redação Claire Cain Miller escreveu na época, "insultos de homens a mulheres poderosas desempenham um papel específico, dizem os pesquisadores: diminuí-las e alimentar o desconforto com mulheres no poder."

Desde que Kamala se tornou a candidata presumida dos democratas, Trump consistentemente se afastou dos problemas que mais preocupam as pessoas para fazer ataques pessoais, muitas vezes superficiais, destinados a desmerecê-la ela, mas que apenas ilustram sua insegurança.

No final de sua conversa com Musk, Trump reclamou que Kamala estava "recebendo um passe livre", citando o recente retrato de capa da revista Time, que ele pareceu sugerir ser muito lisonjeiro.

"Ela parece a atriz mais bonita que já existiu", disse ele. Isso vindo de um homem que, como foi revelado alguns anos atrás, tinha seu rosto estampado numa capa falsa da Time.

Tudo isso aponta para a fragilidade da postura masculina de Trump.

Também expõe seu medo: Uma mulher não branca, duplamente desfavorecida no patriarcado dominado por homens brancos, está ameaçando a posição de um homem que se tornou o totem desse patriarcado.

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