Trump diz que decisão sobre direito ao aborto deve ficar com estados

Republicano teria cogitado vetar procedimento em todo o país se eleito, segundo reportagem do New York Times

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Washington | AFP

O direito ao aborto deve ser decidido por cada governo estadual dos Estados Unidos, disse nesta segunda-feira (8) o ex-presidente Donald Trump ao tentar assumir uma postura mais moderada em relação ao assunto antes das eleições de novembro.

"Agora que a questão do aborto está onde todos queriam do ponto de vista legal, os estados irão decidir por meio do voto, da legislação ou talvez das duas coisas. A decisão, qualquer que seja, deve ser a regra do estado", disse o empresário e virtual candidato do Partido Republicano à Presidência, em um vídeo publicado na sua rede social, a Truth Social. "No final das contas, trata-se da vontade da população."

O ex-presidente dos EUA e possível candidato do Partido Republicano Donald Trump faz declaração sobre a política de aborto - Reprodução/Truth Social via Reuters

A declaração foi feita após uma reportagem do jornal New York Times publicada em fevereiro sustentar que o republicano cogitava, se eleito, proibir o aborto em âmbito federal para casos em que a gravidez já passou de 16 semanas. Tal possibilidade rendeu semanas de especulações, mas Trump não mencionou a intenção de criar uma lei federal nesta segunda.

O cenário que defende agora manteria o que já está em vigor no país. Em 2022, a Suprema Corte dos EUA, que tem três juízes indicados por Trump, suspendeu o direito em âmbito federal ao aborto e deixou aos estados a tarefa de legislar sobre o assunto. Na ocasião, os juízes derrubaram a decisão conhecida como Roe vs. Wade, que estabeleceu o precedente para o acesso ao aborto, quando ela estava prestes a completar 50 anos.

Após a deliberação, alguns estados promulgaram proibições quase totais do aborto, enquanto outros aprovaram leis para legalizá-lo. Muitos conservadores esperam que uma proibição federal possa derrubar os textos que flexibilizaram o procedimento, mas Trump não deu indicações de que faria isso.

"A batalha de 50 anos em relação à Roe vs. Wade tirou a decisão do âmbito federal e a colocou nos corações, mentes e votos da população de cada estado", afirmou ele, no vídeo divulgado nesta segunda, creditando a si próprio pela decisão do tribunal. "Agora está nas mãos dos estados fazer a coisa certa."

Para Jeanette Hoffman, consultora política do Partido Republicano, uma posição diferente poderia prejudicar Trump nas urnas. "Agora que as primárias terminaram, não ganhamos nada com uma proposta de proibição nacional do aborto, pois perderíamos o apoio dos eleitores em muitos estados indecisos."

A campanha de Joe Biden tem dado sinais de que vai usar a oposição do republicano ao direito ao aborto durante a corrida.

"Donald Trump está endossando cada proibição de aborto nos estados, incluindo proibições de aborto sem exceções. E ele está se gabando de seu papel na criação desse inferno", escreveu Ammar Moussa, membro da campanha de Biden, na rede social X, nesta segunda.

Democratas costumam lembrar que a maioria dos americanos se opõe a uma proibição federal, segundo pesquisas. Algumas derrotas eleitorais para os republicanos têm sido associadas à posição do partido no tema.

Embora os americanos tendam a aceitar restrições ao aborto após o primeiro trimestre, levantamentos revelam que uma maioria considerável prefere que a decisão seja tomada pela pessoa gestante e por seu médico, não pelo governo.

Uma pesquisa de março da agência de notícias Reuters e da consultoria Ipsos mostrou que 57% dos americanos defendem que o aborto deveria ser legal na maioria ou em todos os casos. Entre os democratas, porém, o número sobe para 83%, enquanto 57% dos republicanos afirmam que o aborto deveria ser proibido na maioria ou em todos os casos.

No vídeo, Trump diz ser "firmemente a favor de exceções para estupro, incesto e [risco de] vida da mãe" e voltou a dizer que apoia, também "firmemente", o acesso à fertilização in vitro para "casais que tentam ter um lindo bebê".

Embora não tenha citado eventuais planos para uma lei federal, Trump acenou à sua base mais conservadora ao repetir mentiras sobre um suposto apoio de democratas à "morte de bebês".

"Os democratas são os radicais nessa questão, porque eles apoiam o aborto até os nove meses e mesmo depois disso. (...) O bebê nasce e é executado depois do nascimento", afirmou ele, em uma tentativa de se equilibrar politicamente após o que pareceu um recuo em relação à lei federal —o que não convenceu parte de sua base mais radical.

Após a divulgação do vídeo, a chefe do grupo antiaborto Susan B. Anthony Pro-Life America, Marjorie Dannenfelser, disse estar "profundamente decepcionada" e afirmou que a postura de Trump permitiria que os legisladores democratas tomassem medidas para expandir o acesso ao procedimento em alguns estados.

"Os nascituros e as suas mães merecem proteção nacional e defesa nacional contra a brutalidade da indústria do aborto", disse Dannenfelser.

Jenna Ellis, advogada que participou da equipe de campanha para a reeleição de Trump em 2020 e foi indiciada por supostamente tentar anular os resultados do pleito naquele ano, também criticou o antigo aliado. "Tão fraco. Trump fala sobre a questão pró-vida e promete apoiar tudo o que os estados decidirem, incluindo os democratas que permitirão o aborto até ao momento do nascimento."

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