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Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

Descrição de chapéu Todas violência

Valores de sociedades tradicionais africanas são imprescindíveis para educar e humanizar

Não podemos deixar que prevaleça o 'o olho por olho, dente por dente'

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"Coube ao Ocidente avançar na militarização e na tecnologia, mas caberá à África humanizar o mundo."

Pode-se dizer que a frase de Nelson Mandela, registrada em meu livro "Cidadania em Preto e Branco", tem sido uma realidade que se torna visível no Carnaval brasileiro, destacando aqui o de São Paulo, por exemplo, que durante o desfile da escola campeã desse ano, a Mocidade Alegre, num enredo muito interessante, não deixou de tematizar os desafios que vivenciam no país os grupos mais vulnerabilizados.

Ou a Vai-Vai, que, ao focalizar nos 50 anos do hip hop na cidade, exibiu na avenida o tema da violência contra os segmentos mais pobres e negros da sociedade. Ou ainda a Portela, no Rio de Janeiro, que ao trazer um enredo baseado no livro "Um Defeito de Cor", de nossa querida Ana Maria Gonçalves, não nos deixa esquecer que essa história de violência vem de muito longe na história do país.

Desfile da Mocidade Alegre, em São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Esse lugar civilizatório e educador que as festas brasileiras, em particular o Carnaval, vêm ocupando é complexo e cheio de desafios, mas ganha dimensão maior na atualidade, quando constatamos que neste mesmo Carnaval o ouvidor da polícia do estado de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, informa ter recebido diversas denúncias sobre a Operação Escudo (nova fase??), que está sendo realizada na Baixada Santista e que já resultou em 19 mortes nos confrontos entre moradores e autoridades.

Em nota divulgada no domingo (11), a Ouvidoria informou que "A partir de denúncias que nos têm chegado através de moradores e grupos em redes sociais, com vídeos, fotos e áudios, nota-se um recrudescimento assimétrico da violência nos últimos quatro dias, com ênfase para a última sexta-feira, percepção que parte não apenas desta Ouvidoria, mas compartilhada por diversas instituições e entidades de direitos humanos que têm atuado no episódio". Vale acrescentar que o próprio ouvidor e outra(o)s representantes de organizações de defesa dos direitos humanos, como a Comissão Arns, além de familiares das vítimas, relatam tentativa de intimidação por parte de policiais envolvidos na operação.

São acontecimentos que reforçam a permanência e até mesmo o agravamento de uma situação que, em meio à impunidade de tantas organizações criminosas abrigadas em "palácios" —retomo aqui o exemplo dos partidos que descumpriram a obrigação legal de implementar cotas para negros e mulheres e, condenados pela Justiça, tramaram seu próprio perdão—, permanece e até mesmo faz crescer a disposição das forças policiais de "fazer justiça" apenas nas áreas mais pobres de nossas cidades, o que frequentemente se traduz não na aplicação da lei, mas no envio aos cemitérios de jovens corpos, em grande parte negros.

Por conta disso, cabe aqui trazer novamente ao palco do debate o já tão discutido uso de câmeras nos uniformes pelos policiais, medida comprovadamente bem-sucedida na redução no número de mortes, inclusive dos próprios policiais, mas à qual se contrapõem explicitamente diversas autoridades responsáveis pela política de segurança pública de São Paulo e de outros estados.

É nesse cenário que os blocos baianos, entre eles o Ilê Aiyê, que em 2024 completa 50 anos de existência, nos ensinam que valores civilizatórios como a religiosidade, a ancestralidade, a alegria, a musicalidade e nossa energia vital, são centrais nas sociedades tradicionais africanas e imprescindíveis para educar e humanizar parcelas das lideranças brasileiras que estão no campo da segurança.

São valores que podem fortalecer as bases para a construção de uma sociedade capaz de conviver com a diversidade, onde prevaleça o respeito à lei e não a vingança ou o "o olho por olho, dente por dente".

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