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Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

Descrição de chapéu Todas ginástica artística

Mulheres negras medalhistas

Ginastas são exemplo de que negras podem e devem ocupar outros lugares no imaginário do país

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Rebeca Andrade, nossa ginasta que brilhou ao som de funk e samba nas Olimpíadas de Paris, integra com Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira e Julia Soares uma equipe vitoriosa que levou o Brasil a conquistar a primeira medalha por equipes na história da ginástica artística e arrebatou o país com sua graça, técnica e força. Majoritariamente negra, a equipe é um exemplo, dentre tantos, de que mulheres negras podem e devem ocupar outros lugares no imaginário e na realidade concreta do nosso país.

Rebeca já era a ginasta mais condecorada na história do Brasil, com duas medalhas olímpicas (agora três) e nove pódios em Mundiais—três ouros, quatro pratas e dois bronzes. É parte de um grupo seleto de dez estrelas que já conquistaram vitórias em todas as provas da modalidade em Mundiais. É também a primeira latino-americana a se sagrar medalhista e campeã olímpica na ginástica artística feminina.

Ginasta Rebeca Andrade celebra medalha de bronze conquistada pela equipe brasileira nas Olimpíadas de 2024, em Paris - AFP

História de superação é também a de outra ginasta negra, Simone Biles, considerada pela BBC uma das cem mulheres mais inspiradoras do mundo. Biles e Rebeca vão disputar quatro medalhas no salto, no solo, na trave e no individual geral.

Simone Biles foi capa da revista People em 2021, e a reportagem mostra as mudanças que ela trouxe para a maneira holística com que devemos enxergar o esporte, uma vez que priorizou sua saúde mental, abrindo mão da participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Na ocasião, ela desistiu de estar nas finais em razão de uma crise psicológica e vem realizando palestras sobre a importância da saúde mental nos esportes e na vida.

Simone fala de não se cobrar tanto por desempenho e alcance de vitórias, de aproveitar, se divertir e celebrar as conquistas. Nessa abordagem, ela nos remete à importante perspectiva do "Bem Viver" que coletivos de mulheres negras, quilombolas e indígenas sempre enfatizam e que pode ser orientadora de outros patamares civilizatórios que nossa sociedade pode alcançar.

Mas, em meio a essa grande alegria, continuam a acontecer fatos que nos lembram que nem tudo são flores, em especial nas vidas de mulheres negras brasileiras. É o caso da recente vencedora do concurso Miss São Paulo 2024, a modelo Milla Vieira, que, após a vitória, passou a receber comentários racistas em suas redes sociais.

E, em Goiânia, a pré-candidata a vereadora pelo PT Sônia Cleide é quem vem sofrendo ameaças à sua integridade física e à de seus familiares. Em carta de solidariedade a ela, a AMNB (Articulação de Mulheres Negras Brasileiras) manifesta sua indignação e aponta, entre outros fatores que permitem a continuidade desses ataques, a baixa efetividade da lei 14.192/2021, que tipifica a violência política de gênero como crime.

Como contraponto positivo desses tristes fatos, cabe destacar a recente iniciativa do governo federal de adotar uma série de ações de combate à fome com foco nas mulheres negras, segmento que forma a base da sociedade brasileira e é a maioria entre os mais afetados por toda a sorte de mazelas, inclusive pela insegurança alimentar. Aguardemos os resultados da nova política na expectativa de que contribua efetivamente para a reversão desse quadro que afeta cotidianamente mulheres negras também merecedoras de medalhas por tanta resiliência.

Esta coluna foi escrita em parceria com Flávio Carrança, da Cojira

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