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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Yuval Harari e os políticos autênticos

Precisamos de políticos que formulem boas políticas, não de representantes que emulem comportamento da mesa de bar

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Na semana passada, o escritor israelense Yuval Harari proferiu uma aula magna em Brasília para deputados, senadores e convidados. Nela, afirmou que existe, no mundo, um movimento de políticos autênticos que dizem, sem pensar, o que lhes vêm à cabeça no momento. Para tornar mais claro seu repúdio a essa tendência, que parece infelizmente ter certo respaldo popular aqui no Brasil, Harari prosseguiu mencionando sua própria mente, que, como a de todos nós humanos, conteria não só verdades profundas e reflexões mas também “muito lixo”, nas suas palavras. 

O escritor israelense Yuval Noah Harari - Sikarin Thanachaiary/Fórum Econômico Mundial

A autenticidade na atuação de políticos, percebida pela maneira menos sofisticada e mais tosca de falar ou reagir a comentários de outros, muitas vezes de forma explosiva, com ofensas e impropérios, seria, na verdade, uma ação irrefletida, consequência de fatos não devidamente digeridos ou analisados. 

Na verdade, pessoas responsáveis pela definição dos destinos de um país deveriam gastar tempo pensando bem antes de se posicionar frente a eventos da realidade ou a falas de interlocutores. Reações baseadas em análises superficiais ou projetos governamentais gestados a partir de agendas pessoais de momento não nos levarão a construir um Brasil melhor.

Mas esse raciocínio, tão bem estruturado pelo autor de “Sapiens” e “Homo Deus”, entre outros, também poderia se aplicar a cada um de nós, seja os que buscam uma espontaneidade explosiva e turbulenta em nossos políticos, seja os que a praticam no cotidiano virtual. O anonimato ou a possibilidade de fama instantânea nas redes sociais tem feito com que, aos moldes de líderes populistas, internautas expressem, sem freios e sem parar para refletir, suas posições e, em especial, sua raiva do interlocutor, visto como um inimigo a ser desqualificado, não importa se com acusações inverídicas.

Infelizmente, a história tem nos mostrado que a polarização extrema e a humilhação de adversários não costumam trazer bons resultados em termos civilizatórios. Ao contrário, aporta períodos de crises, guerras e até genocídios. Se não controlo os meus impulsos, ou “lixos mentais”, na acepção de Harari, destruo, junto com meu adversário, aquilo que me faz humano e, portanto, empático.

Sim, precisamos de políticos mais voltados à formulação de boas políticas públicas, e não de representantes que, no Parlamento ou no Executivo, emulem o comportamento da mesa de bar ou da tela de redes sociais. Mas colhemos o que plantamos, nesses mesmos espaços, quando não só nos comportamos como inaptos para a vida civilizada, nas nossas diferenças, como buscamos, para nos representar, quem leve essa inaptidão a extremos. 
 

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