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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Descrição de chapéu Enem Fies

O Enem e o Nordeste, desconstruindo preconceitos

O que vemos é um empenho grande em garantir educação de qualidade, sem balas de prata

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Andando pela avenida Higienópolis, em São Paulo, ao passar por quatro senhores, ouço um deles compartilhando com os outros sua visão sobre os nordestinos. "Eles são ignorantes", vocifera e prossegue, tentando atenuar a ofensa, mas imbuído do clima de ressentimento pós-eleitoral de alguns, "a culpa é do PT que não investiu em educação".

No momento, fiquei surpresa, dado que já há quase seis anos que o PT não está no poder no governo federal, e os gastos da União em educação caíram bastante no período recente, mas logo me esqueci do assunto.

Candidatos aguardam a abertura dos portões na Unip, da rua Vergueiro, em São Paulo, para fazer o primeiro dia do Enem - Bruno Santos - 13.nov.22/Folhapress

Acompanhando de perto o primeiro dia de provas do Enem, no entanto, lembrei-me do senhorzinho que, justiça seja feita ao grupo, não mereceu resposta ou apoio dos outros três, pelo menos no curto espaço de tempo em que cruzamos nossos caminhos. Ao me deparar, no entanto, na mídia, com estatísticas de absenteísmo na prova, chamou-me atenção o percentual dos que compareceram por estado. Sergipe teve o índice mais alto, 76,9% de presença, seguido do Piauí e da Paraíba, todos acima da média nacional, de 72,1%.

Evidentemente, isso não significa maior aprendizagem e sim garra e determinação, ingredientes fundamentais para que os jovens prossigam com seus estudos. Mas há outro ingrediente que precisa ser lembrado: uma política pública que incentiva os jovens a levar seus estudos a sério.

Neste sentido, lembrei-me de outra cena, mais antiga, que vi no Ceará, ao visitar o então secretário estadual de Educação, o Idilvan Alencar. Ele pretendia usar a ocasião do Enem para fomentar um estudo mais sério entre os alunos e criou campanhas entre os jovens da 3ª série do ensino médio, inclusive oferecendo-lhes, nos dias de prova, uma camiseta com referência à escola pública e ao entusiasmo em poder prestar o exame com chances de sucesso. Isso se espalhou pela região.

Sim, são ainda muitos os desafios do Brasil, inclusive do Nordeste, em que a universalização do acesso à escola demorou mais. Mas, ao contrário do preconceito verbalizado pelo homem que andava na avenida paulistana, o que vemos é um empenho grande em garantir educação de qualidade, sem balas de prata.

Não por acaso, um dos melhores estados em ensino médio é Pernambuco, a melhor capital em ensino fundamental é Teresina e o Ceará vem ensinando o país o que é alfabetização que funciona e como o governo estadual pode apoiar seus municípios para que todos aprendam.

Temos que avançar bem mais, sem guerras ideológicas e visões distorcidas. Mas vale muito nos inspirarmos no que o Nordeste vem fazendo com muita garra em educação, ao longo dos anos, como política de Estado.

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