Siga a folha

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

Descrição de chapéu Dia da Consciência Negra

Vidas negras importam cada vez menos no Brasil mais perto de você

O Carrefour, como era de se esperar, já foi tirando o corpo fora

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Na véspera do Dia da Consciência Negra, um homem negro de 40 anos foi assassinado por dois vigilantes em um Carrefour de Porto Alegre. Ele foi espancado até a morte, em pleno estacionamento, por ter feito um gesto qualquer para uma funcionária.

É tão fácil matar uma pessoa negra, é tão bem aceito pela sociedade, que os dois funcionários nem se preocuparam em cometer o crime em uma salinha escondida, como no supermercado de São Paulo onde um menino foi chicoteado por 40 minutos por tentar roubar uma barra de chocolate.

​​João Alberto Silveira Freitas foi arrastado pelos “seguranças” enquanto Milena, a mulher dele, pagava pelas compras no caixa. Começou a morrer no momento em que o Carrefour cobrava pela cervejinha e pela carne do churrasco marcado para o fim de semana.

Em outra unidade do Carrefour, há dois anos, um cachorro foi estraçalhado a golpes de barra de ferro por um empregado da “segurança”. Em fevereiro, um trabalhador morreu de mal súbito e ficou escondido por cartazes de promoção para não atrapalhar o funcionamento da loja. Pague um, leve três mortos. Quantos mais?

O Carrefour, como era de se esperar, já foi tirando o corpo fora. Os vigilantes são terceirizados, o caso será investigado, a família terá todo o apoio. Tão chocante quanto o assassinato de João Alberto Silveira Freitas é saber que ninguém fez nada enquanto ele morria em público. Morria como um cachorro, repetindo a prática do Carrefour. As pessoas chegam perto para filmar, mas não para impedir uma atrocidade.

E se fosse um branco?

João Alberto Silveira Freitas morreu na mesma semana em que um candidato a prefeito de Porto Alegre que não fez votos nem para um cafezinho teve vazado um áudio em que reclamava de vereadores eleitos —jovens, negros, sem tradição política, com pouquíssima qualificação formal.

Como a vergonha é um buraco sem fundo, ele depois publicou um vídeo ao lado de uma senhora negra que assegurava ter sido bem tratada por ele. Emenda pior que o soneto.

Não por acaso, a maioria dos vereadores de Porto Alegre votou contra a criação do feriado do Dia da Consciência Negra, isso lá em 2015. Alegaram razões econômicas, que é sempre uma boa justificativa para tirar direitos e vidas. Pague um, leve vários, mate muitos. Sempre uma promoção no Brasil mais perto de você.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas