Claudia Tajes

Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

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Se George Floyd fosse brasileiro, que reação os brasileiros teriam?

As balas da polícia que matam os pretos não deixam feridas nos brancos, por maior que seja nossa empatia

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Se George Floyd fosse brasileiro, que reação os brasileiros teriam?

A pergunta feita nas redes sociais lembrou os tantos casos de abuso policial contra os pretos que o país se acostumou a ver nos últimos anos.

Todos duramente combatidos com posts e textões no Instagram, no Facebook, no Twitter.

Ilustração de uma família com pessoas negras e algumas silhuetas de pessoas que faziam parte do retrato.
Cynthia Bonacossa/Folhapress

Você, eu, meus amigos —de maioria branca, como acontece entre os brancos— não nos juntamos aos negros na rua. Nem os negros foram para a rua, eles que, é quase certo, seriam demitidos de seus empregos de vigilantes, domésticas, serviços gerais, se faltassem ao trabalho para protestar.

Até porque seriam muitas faltas, quase todas as semanas.

As balas da polícia que matam os pretos não deixam feridas nos brancos, por maiores que sejam a nossa empatia e as boas intenções. Deve ser por isso que os nove militares do Exército que assassinaram o músico Evaldo e o catador Luciano com 80 tiros foram libertados agora mesmo pelo Superior Tribunal Militar. E por goleada, 12 votos a 2. Sobe a hashtag vergonha.

No Sul, o angolano Giberto foi visitar a amiga Dorildes. O motorista de Uber era foragido da Justiça e furou um sinal vermelho. Perseguido, abandonou o carro com os dois passageiros dentro. A PM atirou contra Gilberto e Dorildes, que morreu dias depois, na UTI. Branca que anda com negro é suspeita.

Antes de ser preso, Gilberto ouviu dos policiais: “Tu vai sangrar até morrer. Capeta. Exu do caralho”. O comando do 17º Batalhão da PM está avaliando se houve excesso. Foram 35 tiros.

No Recife, o menino de cinco anos vai junto para o trabalho da mãe —empregada que exerce a atividade essencial de arrumar a cama da patroa branca. Ela sai para passear com as cadelas da madame. A patroa, para não ser incomodada pelo menino que pede pela mãe, põe o pequeno de cinco anos no elevador e aperta o nono andar.

Vidas negras importam, mas nada que uma fiança de R$ 20 mil não pague. Mirtes, que perdeu Miguel, disse que, se fosse o contrário, o nome dela logo estaria em todos os jornais. Já o nome de Sari Côrte Real demorou a vazar porque, afinal, ela é de família boa. Mas que família boa daria origem a um ser humano tão escroto?

O pior é que, enquanto a nossa indignação se resumir a posts, textões e colunas, tudo isso está longe de acabar.

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