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Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

Descrição de chapéu Família Todas maternidade

Peso da mãe é principal motivo de críticas em sociedade gordofóbica

Cobranças começam antes da maternidade, se tornam mais invasivas após os filhos e impactam mercado de trabalho

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São Paulo

O corpo da mulher é alvo de cobranças constantes da sociedade e, depois que ela se torna mãe, a pressão estética aumenta.

Em uma sociedade gordofóbica, cujo peso na balança pode determinar o sucesso ou insucesso de uma pessoa —especialmente se ela for do sexo feminino— a cobrança a "voltar a forma" após a maternidade pode nos adoecer.

Estive acima do peso por muitos anos —talvez ainda esteja— após ter dado à luz minha segunda filha, hoje com 11 anos.

Lembro do dia que, ao visitar uma amiga que tivera bebê há poucos meses, encontrei-a em sua cozinha, com diversos livros sobre emagrecimento, cozinhando comidas ditas saudáveis em busca do emagrecimento para voltar ao trabalho após o nascimento do segundo filho.

Ao me ver com muitos quilos a mais após anos sem me encontrar, a primeira pergunta foi sobre meu corpo: "Ninguém liga para o seu peso onde você trabalha?" Naquele momento, com minha bebê gorducha no colo, percebi que eu vivia numa bolha e que a sociedade, de forma geral, nos cobra até o fim da última gota de sanidade mental.

Peso da mulher impacta oportunidades no mercado de trabalho; cobranças pioram após a maternidade - Kokhanchikov/Shutterstock

Minha amiga, meses depois, teve de sair do emprego. Alvo constante de cobranças e comparações por conta do seu corpo após a maternidade, uma depressão a tomou, fazendo-a paralisar a carreira. Quase 12 anos se passaram entre esse episódio e os dias de hoje, e a pressão estética na maternidade está mais forte do que nunca.

Pesquisa feita pela marca The Body Shop com mulheres em um evento que reuniu apenas mães em São Paulo, neste mês —em que celebramos o Dia das Mães— mostrou que 7 em cada 10 delas já sofreram críticas em sua aparência após a maternidade. Dessas, 8 em cada 10 foram alvo de comentários por conta do peso.

Gabriela Pellegrini, mãe de uma menina de dois anos e gerente de marketing da The Body Shop, comentou os dados de uma outra pesquisa da marca, com mães e não mães no mercado de trabalho. Os dados mostram que 40% das mulheres dizem já ter perdido oportunidades profissionais por cobranças estéticas relacionadas ao peso, maquiagem e cabelo.

A cobrança pelo "corpo ideal" atinge a todas e tem se tornado algo mais comum do que gostaríamos, o que Gabriela diz que vem tratando dentro e fora do seu ambiente de trabalho.

"Em todas as maneiras de maternar você acaba mudando, mas especialmente em quem gesta há pressões, e tudo isso reflete na autoestima. Cada uma de nós tem uma função de tentar transformar a realidade. É preciso falar para que não se critiquem mães, mesmo entre mães, porque isso não é legal."

O estudo encomendado pela The Body Shop aponta ainda que, após a pressão estética, 45% das mulheres já modificaram a aparência para se adequar aos padrões de beleza no ambiente profissional. A pressão, em metade dos casos, veio de colegas de trabalho. Em segundo lugar no ranking, as pressões internas representaram mudanças na aparência para 31% delas.

Coleciono as confidências de mães que fizeram de tudo para perder peso e o quanto os quilos a menos na balança se reverteram em ganhos profissionais a custa de adoecimentos psíquicos.

Cirurgias plásticas invasivas, dietas restritivas e foco em exercícios que levam ao emagrecimento têm trazido uma conta alta, somando-se às demandas de cuidados que sufocam as mulheres há anos.

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