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Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

Descrição de chapéu TSE

Crise de confiança: como restaurar a fé nas eleições democráticas

De acordo com Joseph Sherlock, muitos eleitores acreditam que entendem como funcionam os sistemas eleitorais mais do que realmente compreendem

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A desconexão entre os eleitores e a política partidária resulta em apatia e descrença no sistema democrático. Diversos países enfrentam uma alta na desconfiança em suas instituições. A pesquisa realizada pela consultoria Edelman revelou que entre os 36 mil entrevistados em 28 países, 67% acreditam que jornalistas e 66% que líderes governamentais enganam deliberadamente a população com informações falsas ou exageradas.

Países como Alemanha, Estados Unidos e Coreia do Sul foram os mais afetados por essa descrença. Esse cenário reforça a urgência de iniciativas que promovam maior transparência e integridade, especialmente no contexto das eleições, para restaurar a fé nas instituições democráticas.

Urnas são montadas para as eleições na Escola Classe 411 Norte, em Brasília, para eleições de 2022 - Folhapress

Uma das principais causas dessa crise de confiança é a falta de transparência nos processos eleitorais. De acordo com o pesquisador Joseph Sherlock, muitos eleitores acreditam que entendem como funcionam os sistemas eleitorais mais do que realmente compreendem. Para combater esse problema, uma estratégia possível é aumentar a transparência operacional, como demonstrado por algumas iniciativas nos Estados Unidos.

Assim como empresas privadas rastreiam a entrega de produtos (como a Domino's faz com pizzas), os sistemas eleitorais poderiam adotar mecanismos para garantir que os eleitores saibam qual o andamento das apurações, boletins de urna e se votos da sessão foram contabilizados. Já existem experimentos de estados americanos que fornecem atualizações sobre o status de cédulas enviadas pelo correio, o que aumenta a convicção na lisura do processo.

Além disso, há evidências de que as mensagens sobre o processo eleitoral são mais eficazes quando transmitidas por pessoas consideradas honestas, competentes e que compartilham visões semelhantes às dos eleitores. Em cenários de polarização intensa, é comum que eleitores apoiem candidatos antidemocráticos que contestam resultados eleitorais ou defendem interferências nos processos, enfraquecendo as normas e instituições democráticas.

Para mitigar esses efeitos, estudos de ciência comportamental recomendam o uso de identidades comuns que transcendem as divisões partidárias, além de corrigir percepções distorcidas sobre o lado oposto.

Nem sempre as instituições acertam o tom desse tipo de comunicação. Em 2022, o TSE fez uma campanha bastante forte contra desinformação que alegava que as urnas foram fraudadas. Contudo, ao invés de apelar para uma identidade comum, um dos vídeos fazia uma paródia da cena do "Rei Leão" na qual Mufasa alertava Simba para nunca ir ao local escuro onde estavam as "tias do zap". A estratégia, apesar de bem intencionada, reforçava a polarização e o estigma de parte do eleitorado.


No entanto, a confiança depende também de uma abordagem transparente e honesta sobre os erros que podem ocorrer durante a administração das eleições. Sherlock menciona o exemplo do condado de Antrim, em Michigan, onde um erro humano na contagem inicial de votos em 2020 foi corrigido, mas acabou alimentando teorias da conspiração. Isso evidencia a necessidade de normalizar a admissão de erros e, ao mesmo tempo, educar o público sobre as ações corretivas tomadas, para que erros isolados não sejam usados para minar a confiança geral no sistema.

Outro fator importante é o reconhecimento do papel dos funcionários e voluntários que administram as eleições. Esses trabalhadores muitas vezes enfrentam abusos e ameaças, o que leva a altos índices de rotatividade e a um número cada vez menor de pessoas dispostas a assumir essas funções.

Assim como a sociedade reconheceu o esforço dos trabalhadores da linha de frente durante a pandemia de Covid-19, seria benéfico criar uma cultura de respeito e apoio aos mesários e aos fiscais. Além de reforçar que se tratam pessoas comuns trabalhando pela democracia e não militantes politicamente interessados em resultados específicos.

A confiança no sistema eleitoral só será restaurada com o engajamento ativo da sociedade e a implementação de medidas que tornem os processos mais claros para todos os eleitores. É crucial que os órgãos responsáveis aprendam com erros do passado e adotem soluções para aumentar a crença nas eleições, demonstrando que a democracia é um sistema vivo, que depende do esforço contínuo para se aprimorar e ser preservada.

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