Deborah Bizarria

Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

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Será que aprendemos a lidar com outsiders?

Um dos principais motivos para o crescente apoio a candidatos é a desconfiança nas instituições tradicionais

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Nos últimos anos, a política global tem sido marcada pela emergência de "políticos de fora" ou "outsiders", indivíduos ou grupos que operam à margem dos sistemas partidários tradicionais. Podem tanto ser pessoas que acreditam na democracia e desejam se engajar para contribuir na correção de falhas no sistema político, quanto aqueles que se apresentam como antissistema e buscam subverter a ordem estabelecida.

Como sabemos, a internet tem um papel essencial nesse fenômeno. Por meio das redes sociais, esses atores conseguem contornar os tradicionais "gatekeepers" e se comunicar diretamente com o público. Isso permite a construção de movimentos, a mobilização de recursos e a disseminação de suas mensagens sem a necessidade de apoio de partidos ou grandes veículos de comunicação.

Essa estratégia é especialmente eficaz em contextos onde a mídia é centralizada ou o controle partidário é forte, oferecendo uma alternativa para aqueles que se sentem mal representados conforme apontam os pesquisadores Andreas Junkherr, Ralph Schroeder e Sebastian Stier.

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Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão não deliberativa - Pedro Ladeira/Folhapress

Um dos principais motivos para o crescente apoio a outsiders é a desconfiança nas instituições tradicionais. Eleitores que se sentem traídos pelo sistema buscam alternativas que promovam reformas ou mudanças radicais. Muitos desses eleitores também desejam uma maior participação cidadã no processo decisório, vendo os outsiders como uma ponte para uma democracia mais direta e participativa.

O estudo de Sebastien Rojon e outros pesquisadores mostra que essa preferência varia conforme o tipo de outsider. Professores universitários e líderes empresariais são vistos como figuras independentes e competentes por cidadãos europeus. Em contrapartida, altos funcionários públicos podem ser vistos com desconfiança em países onde a burocracia é considerada politizada, como França, Alemanha e Holanda.

A atratividade dos outsiders, no entanto, não é uniforme em todos os lugares. Em países como Itália e Espanha, onde políticos de fora já ocuparam cargos importantes com certo sucesso, o apoio a eles é maior. Em contraste, na República Tcheca e na Bulgária, experiências negativas levaram a um ceticismo maior em relação a esses atores, ainda de acordo com os autores. Esses casos mostram que a experiência prática dos eleitores com outsiders pode moldar sua percepção sobre sua capacidade de governar eficazmente.

Outro aspecto importante é a valorização da expertise. O estudo de Rojon destaca que cidadãos que prezam pela competência técnica tendem a preferir professores universitários para cargos ministeriais. Ou seja, a expertise importa na medida que os eleitores a valorizam, não sendo um critério universal.

A ascensão dos outsiders é uma tendência global, manifestando-se de diferentes formas em democracias ao redor do mundo. Suas implicações para a democracia são complexas. Por um lado, há atores que trazem novas ideias, desafiam elites enraizadas e podem representar vozes marginalizadas. Por outro, aqueles que têm como estratégia romper com normas e instituições estabelecidas enfraquecem o discurso democrático, acirrando divisões sociais.

No Brasil, a eleição de 2018 representou uma onda de renovação significativa. A Câmara dos Deputados, por exemplo, viu a entrada de 243 novos parlamentares, resultando em uma taxa de renovação de 47,3%. Desde então, já houve tempo suficiente para avaliar quem, entre esses novos representantes, desempenhou um bom papel e quem não correspondeu às expectativas.

Contudo, resta saber se dado que mais da metade dos eleitores brasileiros geralmente não se lembra em quem votou para o Legislativo, construímos uma casca contra oportunistas. Para bem e para mal, a qualidade dos representantes, sejam novatos ou da política tradicional, depende da capacidade do eleitor de utilizar seu voto para premiar um bom desempenho ou um histórico de qualificação.

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