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Economista pela UFPE, estudou economia comportamental na Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas Públicas do Livres

Mais poder, mais assédio: o desafio das mulheres líderes

Vulnerabilidade reflete a resistência cultural à presença feminina em cargos de chefia

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O assédio sexual permanece um problema grave nos ambientes de trabalho em diversas partes do mundo. Desde os primeiros estudos na década de 1970, avanços importantes foram alcançados no entendimento das dinâmicas de poder e abuso que envolvem esse tipo de violência.

No entanto, em vez de diminuir, muitas vezes essas agressões aumentam conforme as mulheres sobem na hierarquia corporativa. Esse fenômeno, conhecido como "paradoxo do poder", foi investigado pelos pesquisadores Olle Folke, Johanna Rickne, Seiki Tanaka e Yasuka Tateishi.

O assédio sexual é mais comum entre mulheres em cargos de liderança do que entre aquelas em posições mais baixa - Catarina Pignato

O assédio sexual é mais comum entre mulheres em cargos de liderança do que entre aquelas em posições mais baixas. Os autores identificaram esse padrão em três países com contextos culturais e econômicos distintos —Estados Unidos, Japão e Suécia—, onde as mulheres em funções de supervisão apresentam entre 30% e 100% mais chances de serem assediadas em relação às demais.

A pesquisa empregou dois métodos principais para medir: uma lista de comportamentos específicos (medida objetiva) e uma pergunta aberta sobre experiência de assédio nos últimos doze meses (medida subjetiva). Em ambos os casos, os dados indicam que mulheres em posições de chefia são mais expostas a essas situações.

O "paradoxo do poder" desafia a ideia pré-estabelecida de que ascensão no local de trabalho traria proteção contra o assédio. Ao contrário, quanto mais alto o cargo ocupado por mulheres, especialmente em funções de gestão de equipes majoritariamente masculinas, maior é o risco. Nos Estados Unidos, por exemplo, 57% das supervisoras relataram ter sido agredidas no último ano, em comparação com 37% das funcionárias sem cargo de liderança. No Japão, a diferença também foi significativa: 68% relataram episódios, em contraste com 52% das demais.

Essa vulnerabilidade das mulheres em posições de liderança reflete a resistência cultural à presença feminina em cargos de chefia. Isto, principalmente em setores tradicionalmente masculinos, como construção civil, tecnologia e finanças. Gestoras de equipes predominantemente masculinas enfrentam cerca de 30% mais assédio do que aquelas que lideram grupos majoritariamente femininos. Esse comportamento hostil pode ser motivado por diversos fatores, como ciúme ou sensação de ameaça à identidade masculina no ambiente de trabalho.

Outro ponto alarmante é que, apesar de terem mais recursos para se defender —seja através de sua posição hierárquica ou do acesso a canais de denúncia—, essas mulheres frequentemente enfrentam maiores retaliações, tanto no âmbito profissional quanto social, quando decidem denunciar. Muitas sofrem represálias, como isolamento pelos colegas, avaliações de desempenho injustas ou transferências para funções menos desejadas.

No Japão, 27% daquelas que denunciaram o assédio a entidades externas à empresa enfrentaram consequências negativas, em comparação com apenas 5% das funcionárias de nível mais baixo.

Esse tipo de agressão não prejudica apenas as mulheres de maneira emocional e profissional, mas também tem impactos negativos profundos nas organizações. Ao desestimular a busca por posições de liderança, contribui para perpetuar as desigualdades de gênero, limitando o acesso a melhores salários, status e poder de decisão. Além disso, as empresas perdem talentos valiosos, comprometendo a diversidade e a eficiência no ambiente corporativo.

Há uma urgente necessidade de políticas mais eficazes para combater essa violência, não apenas para proteger mulheres em cargos de liderança, mas também para criar uma cultura organizacional mais segura. A luta contra o assédio sexual, portanto, vai além da questão individual; é um passo fundamental para garantir que todos alcancem seu pleno potencial no ambiente profissional.

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