Siga a folha

Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

A nova era das Baías reúne milhares de pessoas em shows e no Carnaval

Com trabalho de vanguarda, banda tem duas indicações ao Grammy Latino

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Entre tantas potências no cenário musical contemporâneo, destaco o trabalho inspirador e de vanguarda que está sendo feito já há alguns anos pela banda As Baías, formada pelas brilhantes cantoras e compositoras Raquel Virgínia e Assucena Assucena e pelo compositor e cantor Rafael Acerbi.

A banda, criada em 2014, chega ao seu sexto ano de vida com duas indicações ao Grammy Latino, diversos prêmios nacionais, quatro discos lançados, projetos em companhia com várias pessoas —aqui destaco as mais recentes com MC Rebecca e o compositor Rincon Sapiência.

Traz consigo milhares de pessoas que, somadas, compareceram aos shows, aos festivais e que pularam atrás do trio de Carnaval puxada pela banda, que neste ano inaugurou o bloco As Baías Big Band.

Desde seu início, o sucesso rumo a uma nova era da banda foi alcançado show a show, reunião a reunião, com muita dedicação e criatividade.

Os frutos do trabalho estão à altura dos que compõem a banda, que afirmam publicamente suas convicções e ressignificam o que é ser artista no cenário de enfrentamento a discursos problemáticos.

Partem das suas existências como travestis para não apenas inspirar quem as vê no palco como uma voz que ecoa apesar das estruturas seculares que visam abafá-las, como também para formular pensamento crítico, seja em suas músicas originais, seja nos discursos contra-hegemônicos que seus corpos manifestam, ou ainda em suas publicações em colunas e redes sociais.

Para além de sua voz, que nos impacta como uma ventania, Raquel Virgínia é uma empresária com visão de negócios invejável e uma pensadora antirracista. Eu a conheci nos seminários na USP, no começo da década, e desde então a leio e aprendo. Assucena Assucena, uma diva no palco e na vida, articula politicamente a comunidade judaica da qual parte para pensar o mundo.

São pensadoras e cantoras e empresárias e ativistas. Suas multiplicidades são traduzidas na lógica do "e", que é a lógica da ancestralidade.

Tia Ciata, grandiosa filha de Oxum, era sambista e ialorixá e cozinheira. Quem me explicou essa lógica foi pai Sidnei Nogueira, doutor em semiótica e escritor. Pai Sidnei apontou a diferença entre a lógica do "ou", uma lógica colonial excludente que visa a imposição, e a lógica do "e", que traz a soma e a complexidade de quem é humano.

Nunca mais esqueci desse ensinamento e o levo para vida.

A última indicação ao Grammy Latino foi pelo álbum "Enquanto Estamos Distantes", que foi produzido por Rafael Acerbi, músico de talento fenomenal e que marca um novo momento da banda, com influências do pop.

"Mesmo com cinco anos de carreira e quatro discos lançados, esse é um caminho de muito frescor, estamos abrindo portas para um novo lugar", afirma à coluna Rafael Acerbi.

Lembro-me da festa de lançamento da coleção Feminismos Plurais, em maio do ano passado, junto à querida, brilhante e musa Paula Lima, As Baías fizeram um show para as 3.000 pessoas que lotaram o Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo. Rafael segurou o show com seu violão e no improviso, enquanto Raquel, Assucena e Paula levantaram o pessoal. Foi um dia memorável, que marcou uma nova era para o projeto literário.

Chegada a nova era das Baías, fico na expectativa dos novos lançamentos trabalhados pelo produtor musical Daniel Ganjaman, alguns já à disposição como o que reúne a cantora e talentosa produtora Cleo, e outro com a cantora brasileira Kell Smith, fenômeno no YouTube. Até o fim do ano, a banda receberá a companhia de Luísa Sonza, Linn da Quebrada e mais um feat surpresa.

É a nova era da banda As Baías, que já nos presenteou com clássicos contemporâneos da música brasileira, como "Jaqueta Amarela", "Apologia às Mães Virgens" e minha favorita "Das Estrelas". Uma constante atualização da banda que desponta como uma das mais sólidas e prósperas do país.

A coragem e o talento dessas cantoras as fazem despontar como estrelas em constante processo de atualização e que seguem numa caminhada que é inédita na história desse país para pessoas pertencentes ao grupo social de onde partem. "Eu gosto desse clichê: às vezes é preciso mudar para continuar sendo o mesmo, mudamos de novo", comentou Assucena.

Raquel Virgínia, por sua vez, afirmou: "Sinto que essa nova era está revoando a banda mais uma vez, e gostamos muito de inovar. Eu sinto que é uma nova era de grandes acontecimentos na nossa carreira".

Que assim seja.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas