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Mestre em filosofia política pela Unifesp e coordenadora da coleção de livros Feminismos Plurais.

Descrição de chapéu feminicídio

Não há lugar seguro para as mulheres

Violência contra mulheres é sistêmica, não casos isolados

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Nas últimas semanas, vimos casos estarrecedores de violência contra a mulher.

Como venho escrevendo continuamente nesta Folha, é preciso tratar esses temas com a seriedade que merecem, pois não se trata de casos isolados, mas de violências histórias e sistêmicas.

O médico colombiano Andres Eduardo Oñate Carrillo foi preso nesta semana por produzir e armazenar pornografia infantil —ele mantinha mais de 20 mil imagens de abuso sexual de crianças e adolescentes em seus equipamentos eletrônicos. Nessas imagens, a polícia encontrou vídeos de Carrillo estuprando pacientes mulheres anestesiadas.

Ilustração de Aline Bispo para coluna de Djamila Ribeiro de 19.jan.2023 - Aline Bispo

No ano passado, em um caso semelhante, as enfermeiras da sala de cirurgia desconfiaram do comportamento do anestesista Giovanni Quintella Bezerra e, para que pudessem comprovar as suspeitas, tiveram que preparar um ambiente de captação de provas com o fim de flagrar o médico abusador, expondo a paciente a uma violência sexual, mas impedindo que ele continuasse a violentar impunemente.

Apesar da ação corajosa por romper com o código de autoridade de médicos, bem como dos bem-sucedidos flagra e colheita de prova que possibilitaram a prisão e provável condenação do estuprador, uma violência ocorreu para que isso fosse viabilizado, afetando a vida de uma mulher de forma dramática.

Os dois casos têm mais em comum do que o fato de as violências terem sido praticadas por anestesistas: seriam crimes ocultos não fossem a investigação por material pornográfico infantil no primeiro caso ou a atuação das enfermeiras no segundo. Outros tantos que não contaram com essas barreiras são cometidos impunemente, aviltando a dignidade das crianças e mulheres.

Ainda nesta semana, deparei-me na rede social com um vídeo que expunha mais uma situação de violência contra a mulher. A repórter da TV Record Bahia Tarsilla Alvarindo foi agredida por um homem, que desferiu um soco em seu rosto. A cena nos mostra mais do que essa descrição: a mulher estava acompanhada do cinegrafista e um produtor, dois homens. Mas o homem veio na direção da equipe e agrediu a jornalista. Ele estava irritado, pois havia pedido que a equipe não filmasse um familiar seu que havia falecido em um acidente de carro.

A equipe não estava filmando e a reportagem contando o caso estava sendo feita longe do corpo da vítima quando ele interrompeu para agredir a mulher. Mas fico pensando: se o incômodo dele era com a suposta filmagem, por que não agredir o cinegrafista? Por que ele foi direto na mulher? É preciso questionar de onde vem esse senso de autorização que homens carregam para direcionar seus ódios às mulheres.

Um outro caso também chamou a atenção. O crime ocorreu no dia 24 de dezembro de 2022, mas veio a público nesta semana após divulgação da vítima nas redes sociais.

A influencer Gabriella Camello afirmou que o zelador do prédio onde mora invadiu seu apartamento e se masturbou na frente da sua cama. O homem tinha as chaves do seu apartamento e só interrompeu o ato porque a vítima acordou e gritou. Segundo Camello, o síndico do prédio se recusou a demitir o zelador e teria dado risada da situação; na delegacia da mulher, ela afirma ter sido maltratada. Ela pede os vídeos de segurança do edifício que mostram o zelador se masturbando na escadaria do prédio, pouco antes de invadir o apartamento dela. Diante da falta de acolhimento e dos registros, decidiu gravar um vídeo expondo o caso em uma rede social e somente após isso o zelador foi demitido e medidas foram tomadas. São casos repugnantes, que escancaram o desprezo pelas vidas das mulheres no quinto país do mundo em feminicídio.

Situações como essas mostram que mulheres se sentem inseguras dentro de suas próprias casas, exercendo suas profissões, quando são submetidas a cirurgias e estão completamente vulneráveis. Trata-se de uma pauta fundamental e que precisa ser conduzida com seriedade e compromisso. Não pode haver espaço para esvaziamentos e deturpações, pois não há lugar seguro para as mulheres em uma sociedade que banaliza a misoginia e insiste em manter uma cultura de culpabilização das vítimas.

Um projeto de emancipação para este país precisa fundamentalmente priorizar a dignidade humana das mulheres.

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