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Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Em Londres e NY só há riscos

Bolsonaro viajará para pousar em campo minado

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Fosse qual fosse o plano de Bolsonaro para o 7 de Setembro, a pesquisa do Ipec revelou que deu errado. Seja qual for o plano anexo às suas viagens a Londres e Nova York, tem tudo para dar mais errado. Em Londres, será recebido cordialmente, mas para quase todos os chefes de Estado presentes ao funeral de Elizabeth 2ª, ele será uma companhia radioativa. Ninguém ganha aproximando-se dele.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante ato de campanha no 7 de Setembro - Eduardo Anizelli - 7.set.22/Folhapress

Isso em Londres. Em Nova York, na Assembleia da ONU, a coisa piora. Os militantes de organizações ambientalistas crescem ao hostilizá-lo. Como deverá discursar, o que já seria ruim, piora. Se ele repetir a retórica anterior, soprará as brasas de um eleitorado hostil à sua política ou ao seu triunfalismo irracional. Se abrandar a fala, ficará mal com os agrotrogloditas.

Como disse Fernando Gabeira, diante dos números do Ipec "o jacaré bocejou." No entorno de Bolsonaro sonhava-se com uma redução da distância entre ele e Lula. Aumentou.

O 7 de Setembro de Bolsonaro queimou óleo. Não foi coisa dos marqueteiros, pois eles recomendavam moderação. O presidente aceitou o conselho, mas o capitão saiu da pauta com uma tirada vulgar, factualmente desmentida pelo próprio Bolsonaro numa entrevista à falecida revista Playboy, em 2011.

Seus colaboradores explicam que ele às vezes é capaz de aceitar argumentos racionais, mas seu fusível queima em momentos de empolgação. Assim foi no 7 de Setembro com a vulgaridade. Mesmo que ela não tivesse acontecido, horas antes, no Alvorada, ele disse que 1964 "pode se repetir". Sabendo-se que os presidentes são julgados pelo que fazem em pé, essa fala foi mais tóxica.

Bolsonaro foi o único militar da reserva com patente de capitão que se elegeu presidente da República. Antes dele, dois oficiais-generais perderam três eleições. O brigadeiro Eduardo Gomes, duas vezes, e o marechal Juarez Távora, uma. Nenhum dos dois contestou os resultados. Mais: nenhum dos dois fez isso antecipadamente.

Como tal, 1964 não se repetirá em 2022. Admita-se um cenário apocalíptico. Bolsonaro perde a eleição, não aceita o resultado e segue-se uma quartelada. E aí?

Bolsonaro não é um Castello Branco, nem mesmo um Costa e Silva ou Emílio Médici.

Castello colocou Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões no comando da economia. Costa e Silva pôs Antonio Delfim Netto e Médici manteve-o. Bolsonaro poria quem? Paulo Guedes?

Em 1964, junto com Castello Branco subiu ao poder uma parte de uma elite conservadora conectada internacionalmente e respeitada no país. Seu ministério entrou em campo chutando para o gol. Castello exonerou o irmão que aceitou um automóvel de presente. Costa e Silva fritou-se quando seu sogro conseguiu uma aposentadoria esquisita. Os militares que fizeram 1964 tinham um projeto autoritário, porém modernizador.

No Brasil do século 21, com um presidente acicatado pelas "rachadinhas" o caminho de 1964 não existe. Existe outro.

Imagine-se um coronel audacioso disposto a romper com a elite que não o apoia, a encher a administração civil com militares amigos, sobretudo na estatal petrolífera e com planos econômicos desconexos temperados por lances demagógicos. Ele existiu, chamava-se Hugo Chávez.

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