Nesta quarta-feira (7) o Brasil completa 200 anos. Em tempos estranhos, dias estranhos. Nesta terça (6), em São Paulo, foi reinaugurado o museu que celebra a Independência. Nesta quarta, na avenida Atlântica, o presidente da República terá seu dia.
A festa do Brasil atual, no Rio, será dominada por Bolsonaro, com suas encrencas, divisões e radicalismos que levam a nada. A festa da reinauguração do Museu do Ipiranga foi amostra da vitalidade desta nação bicentenária. A celebração do passado mostrou o presente de um país que funciona.
Sabe-se lá o que dirá o capitão em Copacabana. Seu governo foi incapaz de produzir um só evento relevante para essa data. Pensando-se o que foi o Bicentenário da Independência dos Estados Unidos em 1976, ou o Bicentenário da Revolução Francesa, festejado em 1989, sente-se na alma o peso do imobilismo.
Felizmente reinaugurou-se o Museu do Ipiranga. Celebrou-se o trabalho de centenas de operários, servidores públicos, museólogos, restauradores, engenheiros e arquitetos. Celebrou-se também a capacidade articuladora de governos responsáveis. Entre eles, o de João Doria que parece ter saído de moda, mas fez coisas que ninguém fez.
(Lula e Bolsonaro criaram salas museológicas auto celebrando-se no Palácio do Planalto. Um, expondo documentos pessoais. Outro, montando uma vitrine com o terno que usou no dia da posse.)
Em 2005, quando começaram as conversas para recuperar o Museu do Ipiranga, ele estava literalmente caindo aos pedaços. A cripta onde repousava D. Pedro 1º, trazido de Portugal nas festas do Sesquicentenário de 1972, tinha virado mictório de notívagos.
O museu parecia uma daquelas burocracias nacionais que não tinham conserto. (Além da patriotada com os ossos de D. Pedro, o governo do general Emílio Médici patrocinou dezenas de iniciativas culturais relevantes.)
Em 2013 o Museu do Ipiranga foi fechado e começaram os trabalhos. O que foi reinaugurado nesta terça é uma nova instituição e será certamente o melhor museu do país, tanto na instalação, como no propósito. Mais de 2.000 caminhões de terra foram retirados para permitir a expansão física do museu sem alterar sua silhueta.
Centenas de peças foram restauradas, inclusive o Grito do Ipiranga, pintado por Pedro Américo em Florença. Isso não é pouca coisa num país onde museus pegam fogo e vive-se um tempo de flerte com o atraso.
O novo Museu do Ipiranga é uma providencial lição do vigor dos brasileiros. Ofendem-se as atividades culturais e de uma instituição arruinada, saiu uma grande obra. Demoniza-se o serviço público e a burocracia cultural produz esse monumental resultado. Satanizam-se as alianças do empresariado com o poder público, mas 36 empresas cacifaram boa parte do serviço.
O antigo virou novo e o que deveria ser novo velho é. Tempos estranhos ecoam o século 16, quando os caetés comeram o bispo Sardinha e o equivalente ao secretário da Receita, Antonio Cardoso de Barros.
A turma que reconstruiu o Museu do Ipiranga colocou na rede um site precioso. Nele, quem tiver alguns minutos para perder, saberá como se trabalhou.
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