Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Itamaraty

Sem Bolsonaro, conservadorismo nacional fica livre

Direita terá dois anos para levar aos eleitores um quadro vacinado contra o estilo de seus antecessores

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Sem Bolsonaro, o conservadorismo nacional fica livre de uma liderança primitiva, catapultada ao poder em 2018 por diversos fatores, entre os quais esteve a soberba do consulado petista.

Na sua história, antes de Bolsonaro, a direita só chegou ao poder pelo voto com um histrião, mas pode-se acusar Jânio Quadros de tudo, menos insinuar que durante uma epidemia ele viesse a encrencar com as vacinas.

Essa direita terá dois anos para levar aos eleitores um quadro vacinado contra o estilo de seus antecessores.

CARLOS FRANÇA NO CANADÁ

Com uns três meses de atraso, no fim de maio o governo do Canadá concedeu o agrément ao embaixador Carlos França, ex-chanceler de Bolsonaro (nada a ver com seu antecessor, Ernesto Araújo).

Para quem conhece os minuetos da diplomacia, isso aconteceu também porque o governo fez saber que sua escolha se deu pelos méritos profissionais de França. Jogo limpo.

Do alto de sua importância, em 2021 Bolsonaro resolveu mandar o ex-prefeito Marcelo Crivella para a embaixada na África do Sul. Quando o agrément começou a demorar, Bolsonaro tentou destravá-lo num telefonema para o presidente Cyril Ramaphosa.

A gestão era impertinente, o agrément continuou encalhado e Crivella voltou às suas origens na política do Rio de Janeiro.

Em encontro com embaixadores no Palácio da Alvorada, e, julho de 2022, Jair Bolsonaro (PL) tentou desacreditar o sistema eleitoral brasileiro; na ocasião, ele repetiu mentiras e teorias da conspiração, além de fazer ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. PR/AFP/Clauber Caetano-18.jul.22

O ex-presidente Bolsonaro afirmou aos embaixadores que apenas Brasil, Butão e Bangladesh utilizam urnas eletrônicas sem impressão de voto. No entanto, equipamentos utilizados por parte da França e dos Estados Unidos também não imprimem comprovante físico da votação. Folhapress/Rivaldo Gomes-21.set.22

Bolsonaro afirmou que, durante a investigação da PF sobre o ataque hacker de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral não colaborou com as investigações, mas a corte eleitoral disse que o próprio TSE encaminhou à Polícia Federal as informações necessárias à apuração dos fatos e prestou as informações disponíveis. Folhapress/Pedro Ladeira-23.nov.22

Bolsonaro afirmou que o hacker teve acesso ao código-fonte e senhas de acesso ao sistema do TSE e poderia ter fraudado as eleições de 2018; a declaração foi desmentida pelo delegado Victor Campos, responsável pela investigação na PF, que não encontrou indícios de que a ação pudesse ter resultado em manipulação de votos, fraude ou problemas na integridade das urnas. Folhapress/Bruno Santos-18.jan.21

Bolsonaro disse que o PSDB teria concluído que sistema eletrônica é inauditável, e o TSE rebateu; segundo o tribunal, o PSDB contratou uma auditoria externa para investigar supostas fraudes na eleição presidencial de 2014, e o relatório não encontrou indícios de irregularidades, mas destacou que o sistema não permitia uma auditoria externa independente e efetiva. Folhapress/Rubens Cavallari-22.ago.22

Bolsonaro disse que Polícia Federal recomendou voto impresso, mas o TSE rejeitou; a PF realmente recomendou, em outubro de 2018, que fossem envidados todos os esforços para que possa existir o voto impresso para fins de auditoria, mas a sugestão já tinha sido aprovada em duas leis, em 2009 e 2015, posteriormente consideradas inconstitucionais por 'comprometer o sigilo e inviolabilidade do voto'. Divulgação/TSE/Alejandro Zambrana

Bolsonaro afirmou ainda que observadores internacionais não conseguem conferir integridade do sistema eleitoral, mas eles realizaram análise técnica sobre a urna eletrônica e o sistema eleitoral brasileiro para o pleito de 2022. PR/AFP/Clauber Caetano-18.jul.22

Bolsonaro disse que foi indevidamente acusado de vazar inquérito sigiloso, mas divulgou trechos da investigação em agosto de 2021; em janeiro de 2022, a PF concluiu que o ex-presidente cometeu crime ao vazar os dados, mas não o indiciou por respeitar posicionamentos recentes do Supremo que decidiram que pessoas com foro privilegiado só podem ser indiciadas mediante prévia autorização da corte. Reprodução/Facebook/4.ago.21

O ex-presidente disse aos embaixadores que uma empresa terceirizada faz a contagem dos votos das eleições brasileiras, mas o TSE informou que o sistema de totalização é feito na corte e apresentado com um ano de antecedência às entidades fiscalizadoras; apenas a fabricação do supercomputador utilizado pelo tribunal é feita pela empresa Oracle. Reprodução/

Segundo Bolsonaro, o ministro Edson Fachin teria dito que auditoria não poderia contestar resultado das eleições, mas a fala foi retirada de contexto, segundo o TSE; na declaração, o ministro explicou como a auditoria servia para analisar procedimentos da eleição. Folhapress/Pedro Ladeira-12.mai.22

Bolsonaro disse ainda que Fachin foi advogado do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra); em nota, o TSE afirmou que o ministro jamais atuou na defesa do movimento; a declaração de Bolsonaro tem como base o apoio dado pelo magistrado ao movimento, em 2008, quando assinou um manifesto feito pelos trabalhadores rurais. Secom/TSE/Antônio Augusto-16.ago.22

Aos embaixadores, Bolsonaro voltou a dizer que as urnas eletrônicas, em 2018, completavam automaticamente os votos; o TSE já desmentiu a informação após peritos encontrarem cortes no vídeo citado pelo então presidente, que confirmam que houve montagem. Folhapress/Bruno Santos-1.ago.21

Bolsonaro afirmou que o ministro do STF Luís Roberto Barroso teria dado uma palestra nos Estados Unidos com o tema "Como se Livrar de um Presidente"; em nota, a assessoria do ministro disse que Barroso não deu a referida palestra. /Arquivo pessoal

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