Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Lula está como gosta

Na diplomacia, ele marcou a diferença

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Lula embarcou para a Itália e a França. Em Roma, verá o papa Francisco, seu defensor quando ele estava na cadeia, e em Paris estará com o presidente Emmanuel Macron. Parece nada, mas os guarda-costas de seu antecessor arrumaram encrencas nas ruas de Roma e ele não quis (ou não conseguiu) ir ao papa Francisco. Com a França foi pior, o capitão foi cortar o cabelo e não recebeu um ministro de Macron.

O Brasil vivia um apagão de civilidade, no qual um homem educado como o então ministro Paulo Guedes deu-se a um comentário vulgar a respeito de Brigitte, a mulher de Macron. (Tolices desse tipo sempre aumentam o cacife dos ministros no Planalto.)

Lula durante reunião ministerial no Planalto - Evaristo Sa-15.jun.23/AFP

Lula viaja carregando uma agenda muitas vezes exagerada. Se deixarem, ele volta a defender a criação de uma governança internacional para o meio ambiente. Não lhe basta ONU, que mal funciona. Uma coisa é certa, Lula restabeleceu a compostura internacional do presidente brasileiro. Não lhe passa pela cabeça dizer ao chanceler que deve mostrar um discurso ao seu ajudante de ordens para que lapide suas más ideias. Bolsonaro deu essa atribuição ao tenente-coronel Mauro Cid. O oficial está na cadeia por causa da polivalência que lhe atribuiu o chefe.

A ida de Lula à Santa Sé quebra um jejum de anos. O papa Francisco mostrou-se um renovador, dando o barrete cardinalício a d. Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus. A decisão foi sem dúvida adequada para um tempo em que a Amazônia e seus povos vivem ameaçados. Além disso, ecoou a história, pois se o Brasil independente manteve a Amazônia que recebeu de Portugal, muito deve aos religiosos que entravam na floresta com suas missões. O padre Antônio Vieira (1608-1697) ralou nas mãos dos colonos que escravizaram os povos da terra.

Não é por nada, mas vale lembrar que três arquidioceses que tiveram cardeais (Porto Alegre, Belo Horizonte e Fortaleza) ficaram esquecidas. O fato de a arquidiocese ter sido ocupada por um cardeal não significa que seja sempre uma sé cardinalícia, mas sobretudo Porto Alegre valeria uma lembrança, até porque o Sul do Brasil é um celeiro de vocações religiosas. Os colonos alemães da cidade catarinense de Forquilhinha deram à Igreja dois cardeais —Paulo Evaristo Arns (1921-2016) e Leonardo Steiner— , mais três bispos, 59 padres e uma centena de religiosas. Isso, sem contar Zilda Arns (1934-2010), irmã de d. Paulo e mola da Pastoral da Criança. Ela morreu no terremoto do Haiti e seu processo de beatificação tramita na Santa Sé. O cardeal de São Paulo, d. Odilo Scherer, é parente distante de d. Vicente, o primeiro e único cardeal de Porto Alegre.

Há séculos os papas pensam duas vezes antes de fazer isso com cidades italianas. Pio 12 morreu sem elevar ao cardinalato o arcebispo de Milão Giovan Battista Montini. Esse é um dos muitos mistérios da personalidade desse papa. De qualquer forma, foi inútil, pois Montini sucedeu a João 23 e tornou-se Paulo 6º. Ele morreu em 1978 deixando outro mistério: entre os cardeais in pectore que escolheu estava d. Helder Câmara? (Às vezes, o papa escolhe cardeais in pectore, sem revelar seus nomes, para não encrencar com governos ditatoriais.)

Em Paris, com Macron, estará livre do protocolo do Vaticano. Ambos certamente ficarão mais desenvoltos, pois têm motivos para isso.

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