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Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

Descrição de chapéu Coronavírus

A nova era das vacinas

O campo está se transformando com a experiência da pandemia de Covid

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O desenvolvimento das vacinas promete se transformar depois da pandemia de Covid-19.

Obteve-se um avanço antes impensável: 11 meses entre a descoberta do novo coronavírus e o início das vacinação em massa. E não foi um só tipo: hoje, temos oito vacinas plenamente aprovadas para uso em pelo menos um país, 15 outras aprovadas para uso emergencial (etapa anterior à aprovação plena) e ainda 105 em testes clínicos. Sem contar as 194 que estão na fase de desenvolvimento laboratorial.

Profissional da saúde prepara vacina da Moderna contra a Covid-19, em Nova York - Mike Segar - 29.jan.2021/Reuters

Mais de 7 bilhões de doses já foram aplicadas; cerca de 30 milhões de doses diariamente. O perfil de segurança é extraordinariamente alto, considerando todos os estudos já realizados. Estes dados fazem desmoronar quaisquer argumentos de que tudo isso teria sido feito às pressas e, por isso, não se poderia confiar nas vacinas. Ao contrário, o conhecimento acumulado permitiu que elas fossem desenvolvidas de forma célere, mostrando que se levava tempo demais para descobrir novas vacinas. Este é mais um exemplo de como uma crise é capaz de acelerar o caminho até respostas e soluções.

Testemunhou-se o desenvolvimento de novas formas de vacinas. Além das tradicionais com vírus mortos, como da Sinovac/Butantan, usou-se vacinas vetorizadas, como da AstraZeneca/Bio Manguinhos e da Janssen e também as de RNA mensageiro, como da Pfizer/BioNTech, citando apenas as que estão em uso no Brasil.

Muitos outros germes, todavia, assolam a saúde há muito tempo. Dengue, chikungunya, herpes, malária, tuberculose, gonorréia, sífilis, para nomear alguns. O que esperar agora?

O impulso visto deverá revolucionar a vacinologia. Muitos centros de pesquisa clínica, como o da USP, já estão vendo um rápido aumento de solicitação de estudos com novas vacinas.

Também há uma revisão de planos para enfrentamento de uma próxima pandemia. Aliás, é consenso que não é questão de "se" mas de "quando" esta acontecerá.

Com a Covid-19, tudo foi muito rápido: após a divulgação do novo coronavírus como causador da doença, testes foram disponibilizados em uma semana; o primeiro tratamento efetivo, com a dexametasona, foi estabelecido com 138 dias e a primeira vacina chegou em 300 dias. Poderia ser mais rápido? Sem dúvida que seria possível.

Documento concebido por vários especialistas para os países do G7 propõe que, tão logo se identifique uma próxima pandemia, entre em curso um plano de 100 dias, como prazo limite para que haja testes disponíveis em larga escala, tratamentos acessíveis e, como não poderia faltar, ao menos uma vacina eficaz. É um prazo ambicioso, mas factível.

Em relação às vacinas, é preciso investir em vigilância para a rápida identificação de novos agentes infecciosos como para o aumento de conhecimento sobre as principais famílias de vírus com potencial pandêmico. Também é importante investir no aprimoramento de novos métodos de vacinas para rápido desenvolvimento e no fomento às redes de pesquisa em epidemiologia, microbiologia e clínica, com parceria entre instituições acadêmicas, indústrias, filantropia e outras organizações governamentais e não governamentais. Ainda, facilitar o desenvolvimento de empresas que atuam na área, quer sejam públicas ou privadas, é de importância estratégica.

O Brasil, com vasta extensão territorial, diversidade de flora e fauna, múltiplos ecossistemas e a sétima maior população mundial, não pode ignorar sua importância no contexto mundial. Precisa aglutinar vontade política e investimento em todas as etapas, pois a próxima pandemia também pode surgir aqui.

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