Base de Lula sente falta de nome forte para negociar, e governo minimiza derrotas no Congresso

Aliados dizem ser importante uma articulação comandada pelo presidente, mas afirmam que até agora não viram disposição para isso

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Brasília

No mesmo dia em que o presidente Lula (PT) comandou a primeira reunião de seu prometido novo modelo de relação com o Congresso, integrantes de bancadas aliadas repetiam nesta segunda-feira (3) um antigo diagnóstico. Segundo eles, falta alguém "empoderado" no Palácio do Planalto que garanta uma articulação política eficiente e, principalmente, o cumprimento dos acordos feitos.

Parlamentares reclamam desde o ano passado do que consideram uma falta de cumprimento de acordos por parte do Executivo nas votações.

Segundo esses políticos, a entrada de Lula no dia a dia da sua articulação é importante, mas, por ora, eles dizem não ver disposição do petista para isso. O governo, que minimiza as derrotas no Congresso, já prometeu azeitar a interlocução com congressistas anteriormente, mas as queixas continuam.

Lula conversa com jornalistas no Itamaraty enquanto aguardava o presidente da Croácia, Zoran Milanovic; mais cedo o petista comandou reunião com seus articuladores políticos - Ueslei Marcelino/ Reuters

Em fevereiro, o petista recebeu o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e líderes da Casa para uma confraternização no Palácio da Alvorada e afirmou que isso se tornaria rotineiro —até agora, no entanto, não ocorreu novo encontro.

Em março, Lula também teve encontro do mesmo tipo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e líderes partidários.

Na semana passada, o governo sofreu uma dura derrota no Congresso, quando deputados e senadores derrubaram vetos presidenciais com ampla margem de votos.

Três pautas de cunho ideológico marcaram a sessão com reveses ao governo: o fim das saidinhas de presos, um pacote de costumes incluído por bolsonaristas na prévia do orçamento e o veto de Jair Bolsonaro (PL) ao dispositivo que criminalizava "comunicação enganosa em massa".

Horas após a sessão do Congresso, Lula reclamou com um líder do governo afirmando que, em sessões que tratam de temas considerados delicados, é preciso acionar os demais ministros da Esplanada.

Articuladores relatam terem acionado ministros, mas integrantes do governo e membros do Parlamento dizem que essa movimentação foi aquém da necessária.

Na reunião desta segunda, foi feito um diagnóstico da articulação política no Congresso e foram debatidas pautas prioritárias do Executivo a serem analisadas até o recesso parlamentar, entre elas a regulamentação da reforma tributária.

Após o encontro, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tentou minimizar o fiasco afirmando que "nada do que aconteceu na sessão do Congresso Nacional surpreendeu os articuladores políticos do governo".

"O presidente da República e a articulação política têm total noção realista do que é o perfil do Congresso Nacional e da centralidade dos nossos projetos da economia e da área social. E vamos continuar avaliando o resultado do desempenho e avanço a partir dessa pauta", afirmou.

Padilha é um dos principais alvos dos congressistas da base de Lula. Além de Lira ter rompido relações com ele, o ministro é apontado por deputados e senadores como autor de acordos que não são cumpridos por outros ministros ou pelo presidente.

Além dele, formam o time da articulação de Lula o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), o líder no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e o líder na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Um parlamentar relata, por exemplo, que na votação das saidinhas recebeu simultaneamente orientações díspares de alguns dos integrantes da articulação de Lula, um bate-cabeça que tem sido constante, afirmam congressistas.

Do lado do Planalto, há também um antigo diagnóstico, o de que a resistência a Padilha e as derrotas aplicadas ao governo buscam retomar o modelo de relação do governo Bolsonaro, que levou o centrão para o Palácio do Planalto e entregou ao grupo a condução política de sua gestão.

A esquerda tem tamanho minoritário na Câmara e no Senado, o que obrigou Lula a buscar formar sua base de apoio distribuindo ministérios a partidos de centro e de direita. União Brasil, PSD, MDB (com três ministérios cada um), PP e Republicanos (um ministério cada um) formam essa base, com 11 vagas no primeiro escalão do governo.

Um líder de partido da esquerda diz que o governo precisa cobrar especialmente as siglas do centrão que têm representantes na Esplanada, mas não entregam votos —e afirma que isso passa também por envolver os próprios ministros.

Ele também diz que há uma falta de reconhecimento do Planalto com as legendas da esquerda, que apoiam mais incisivamente as pautas do Executivo no Congresso, mas, na visão dele, não são prestigiadas.

Na avaliação de um interlocutor de Lula no Congresso, faltou empenho dos partidos de centro-direita na sessão do Congresso, mas também do próprio PT e siglas de esquerda. A leitura é que esses parlamentares ficaram acanhados diante da ofensiva da oposição sobre a pauta.

Diante desse diagnóstico, há a previsão de que Randolfe e Padilha se reúnam nesta semana com vice-líderes do governo no Congresso para mobilizar a base. O contexto político também deverá ser tratado em reunião semanal com vice-líderes da Câmara.

Apesar de parlamentares afirmarem que a entrada de Lula, caso de fato se concretize, tem potencial para melhorar a relação, integrantes dos partidos aliados afirmam que mesmo assim já há consolidado um cenário de derrotas nas chamadas pautas de costume, devido ao perfil majoritariamente conservador da maioria do Congresso.

Há também uma avaliação de que as bancadas de mais expressão do Congresso estão alinhadas à direita, como a ruralista e a ligada à segurança pública. Dessa forma, temas que sejam contrários ao posicionamento desses parlamentares não deverão prosperar.

Dessa forma, congressistas defendem que a prioridade do governo deve se manter na agenda social e econômica. Eles dizem que todos os projetos da pauta econômica que foram enviados pelo Executivo ao Congresso Nacional foram aprovados.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) é apontado por eles em tons mais positivos, como uma pessoa que até agora tem se mostrado confiável no cumprimento dos acordos firmados.

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