Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.
Derrubar Borba Gato, mistura de mau gosto com passado sombrio , é pouco
Aquele trabuco na mão da estátua não era para caçar papagaio
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O fato de a estátua parecer ter sido projetada por uma criança de oito anos faz a gente quase se esquecer. Borba Gato, Borba, para os frequentadores da zona sul, ou Bó, no paulistanês crônico, era um bandeirante.
Embora muitos livros de história ainda digam o contrário, os bandeirantes não foram heróis desbravadores. Ao abrir caminho nas matas brasileiras, esses sertanistas escravizavam, estupravam e assassinavam indígenas. Aquele trabuco na mão do Borba não era para caçar papagaio.
No mês passado, em um dos protestos antirracistas, manifestantes jogaram no rio de Bristol, no Reino Unido, a estátua de um famoso traficante de escravos. Na Bélgica, houve a queda da escultura de Leopoldo 2º, responsável pelo assassinato de congoleses durante a colonização.
Os atos ressuscitaram a discussão sobre o destino da estátua paulistana. Afinal, deveríamos derrubar o Borba?
Muitos defendem que estátuas ajudam a contar a nossa história. Até aí, a dengue mata milhares de pessoas e nem por isso temos uma estátua do mosquito Aedes aegypti no centro da cidade.
Mas o que faz a estátua do bandeirante ser tão polêmica, além da mancha histórica, é a total falta de senso estético. Borba, com o perdão do trocadilho, não é lá muito gato.
Se seguirmos a combinação passado sombrio com mau gosto, derrubar o Borba Gato é pouco.
Os prédios neoclássicos, também conhecidos como “neocafonas”, são representantes do complexo de vira-lata do paulistano, que toma “gelato na casquetta” e batiza os filhos com nomes como Enzo e Phillipo. Junto com seu maior representante, o Espigão da marginal Pinheiros, deveriam ir ao chão.
A ponte estaiadinha, além de ligar nada a lugar algum, é símbolo da engenharia ostensiva macho-hétero-branca-sem-noção. Não aprenderam com os erros do Minhocão. Poderia ir ao chão.
Mais recentes, as lojas Havan juntam ostentação com a cafonice neoclássica e se reproduzem pelas rodovias como o coronavírus. O que dói mais é saber que foram pagas com a ajuda de sonegação de imposto, ou seja, nós pagamos por elas.
Assim como nosso conhecido Bó, deveriam ir ao chão.
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