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Acordei com a impressão bizarra de que o ano que vem pode ser melhor do que o ano que corre

Tem gente que chama isso de otimismo, mas talvez o nome científico seja ingenuidade, que também atende por estupidez

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Não sei vocês, mas ando sentindo um negócio esquisito. Um treco que não sentia há muitos anos. Estou sendo acometido por uma série de sintomas estranhos de alguma doença antiga, daquelas que pareciam erradicadas. Começou com uma alegria nos pés logo de manhã cedo, até que vi surgir à flor da pele uma coceirinha de esperança. Estranhei mesmo foi quando brotou, no fundo do peito, em vez do tradicional pigarro, uma pontada de bom presságio.

Juro que não sei de onde foi que peguei, nem de quem. Evito aglomerar, sobretudo com gente esperançosa. Jurava que os últimos anos tinham me vacinado contra qualquer tipo de expectativa de melhora. Tomei a primeira dose de desespero em 2016, a segunda de cinismo em 2018, a terceira de desalento em 2020. Bem que me avisaram: esse vírus muta. Devo ter pegado alguma variante: auspício, confiança, fé.

Publicada nesta terça-feira, 26 de julho de 2022 - Catarina Bessell

Hoje mesmo acordei com a impressão bizarra de que o ano que vem pode ser melhor do que o ano que corre. Não chega a ser um sintoma inédito, mas está empoeirado, cheira a naftalina. Lembro ter sentido isso no fim da adolescência, quando entrei na faculdade, daí senti quando conheci o amor correspondido, depois quando tive a primeira filha, em 2018. Mas então era uma coisa só nossa, minha e da mãe da minha filha. O mundo estava em outra. O país lá fora estava ruindo, tínhamos que guardar aquela esperança toda só pra nós.

Se hoje compartilho com vocês minha alegria é porque tenho a impressão de que esse vírus voltou a circular por aí. Tenho visto gente espirrando otimismo, em outros consigo enxergar a ansiedade pingando do nariz feito coriza. Pode ser delírio. Deve ser delírio. Um dos sintomas dessa doença esquisita consiste em enxergar doentes por todo lado.

Tem gente que chama isso de otimismo, mas talvez o nome científico seja ingenuidade, que também atende, em alguns países, pelo nome de estupidez. Deve ter a ver com o fato de estar me informando muito pouco, ou de forma muito seletiva. Saí da maioria dos grupos de WhatsApp, apaguei uns aplicativos do celular, só leio o que me interessa. E tenho um bebê em casa, e um bebê é um negócio que melhora a cada dia, vertiginosamente.

Quem não quiser pegar otimismo, aviso logo que estou positivo. Espero que passe logo, senão corro o risco de não conseguir pagar as contas. Um humorista contente é feito um general na política: um pedaço imprestável de carne.

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