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Professor, militante do MTST e do PSOL. Foi candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo.

2021 e a epidemia da miséria

Até aqui, a maioria da elite política e econômica assiste placidamente à tragédia anunciada

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2021 será o ano da vacina, apesar de Bolsonaro e graças à dedicação de cientistas no Brasil e no mundo. As vidas perdidas são irreparáveis e deixam um rastro de luto e sofrimento. Mas, finalmente, podemos hoje ver uma porta de saída para a pandemia do coronavírus.

Há, porém, uma outra epidemia, não menos devastadora, que ameaça o Brasil em 2021: a da miséria. Ela foi contida até aqui devido ao auxílio emergencial —aprovado contra a vontade de Bolsonaro em março—, que beneficiou 68 milhões de famílias.

O auxílio atendeu a 67% dos desempregados brasileiros e a mais de 40% das mulheres chefes de família. O valor representa mais da metade da renda familiar para 23 milhões de pessoas e a única fonte para outros 9 milhões. Ou seja, estamos falando da fronteira entre ter ou não comida na mesa.

Acabar com o benefício, em meio à segunda onda da pandemia, é um gesto bárbaro de irresponsabilidade social, ainda mais ante o fato de que no fim do ano o país chegou a 14,1 milhões de desempregados, recorde da série histórica do IBGE.

Os quase 70 milhões de famílias que deixarão de receber o auxílio a partir deste mês têm diante de si um mercado de trabalho sem oportunidades. Estarão jogadas à própria sorte.

Estamos falando de gente com fome. De mais gente morando na rua, já que o benefício é utilizado por muitos para pagar o aluguel de algum cômodo nos fundões urbanos. Estamos falando de desespero. Se isso se traduzirá em saques e convulsão social, como em outras crises, é algo imponderável.

Aos que, de mesa cheia, não se sensibilizam com a fome dos outros, falemos então das consequências econômicas.

Serão R$ 32 bilhões a menos na economia por mês. Quem recebe o auxilio gasta no consumo, frequentemente no comércio local: no mercado, no açougue, na padaria do bairro. Sem esse dinheiro em circulação, poderemos ter uma nova onda de falências nos pequenos negócios e mais desemprego. É notório que os programas de transferência de renda têm efeito econômico multiplicador, ampliando o consumo popular, estimulando a geração de emprego e gerando impacto positivo na arrecadação tributária.

Mas até aqui a maioria da elite política e econômica do país lava as mãos e assiste placidamente à tragédia anunciada da epidemia de miséria. Uniram-se no mote de Bolsonaro: "não posso fazer nada". Aliás, não é a primeira vez que bolsonaristas e liberais —adversários no tema da vacina— se juntam quando as vidas que estão em jogo são apenas as do andar de baixo.

Neste início de ano, as grandes batalhas nacionais serão pelo início da vacinação e pela manutenção do auxílio emergencial. Nos dois casos, trata-se de defender a vida.

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