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Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.

O desconforto de Guedes e a farra de Marinho

Plano do ministro do Desenvolvimento Regional tem jeitão de um PAC-Geisel

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A aparência de Paulo Guedes durante o pronunciamento de Jair Bolsonaro ao lado de seus ministros na sexta (24) indicava desconforto. Guedes, único que usava máscara, estava sem paletó e de meias e destoava da formalidade dos demais.

Dois dias antes, havia partido da Casa Civil de Braga Netto o Plano Pró-Brasil, concebido principalmente por Rogério Marinho, ministro do Desenvolvimento Regional. O plano tem jeitão de um PAC-Geisel para consumar obras de infraestrutura, que incluem R$ 30 bilhões de dinheiro público, como suposta solução para a crise do coronavírus, que pode derrubar o PIB em 5% neste ano.

Paulo Guedes usa máscara durante pronunciamento de Jair Bolsonaro à imprensa - Ueslei Marcelino -24.abr.2020 / REUTERS

O presidente, por enquanto, demonstrou apoio a Guedes e sua responsabilidade fiscal, mas a articulação de peso que une Marinho, alguns militares e o centrão ainda não foi completamente contida.

O PAC de Dilma nos legou 5.000 obras paralisadas na data de hoje e enterrou R$ 100 bilhões, em valores atualizados. O governo investe mal. O processo de decisão de cada investimento do PAC não derivou de planilhas de cálculo econômico, mas exclusivamente de cálculo político pavimentado pela peregrinação à Brasília de políticos para acessar recursos que dispensavam controles orçamentários.

Há uma percepção equivocada de que investimento em infraestrutura gera mais empregos e, consequentemente, deve ser priorizado. Na verdade, todo investimento gera emprego. As micro e pequenas empresas, por sinal, geram 50% dos empregos empresariais no Brasil.

Mais que empregos temporários durante uma obra, importa a continuidade de geração de vagas ao longo do tempo. Na medida em que determinado investimento reduza custos de logística, de energia, e torne a empresa brasileira mais competitiva no mundo, o investimento tenderá a gerar riqueza e empregos continuamente.

O empreendedor busca projetos que propiciem o melhor retorno, indicado pelos preços, por sua vez determinados pelas necessidades mais urgentes do consumidor. Por meio dos sinais de preços, o consumidor instrui os empreendedores a fabricar o que mais precisa e deseja. Porém, se a decisão de investimento for reflexo do dirigismo estatal em busca de uma métrica de empregos ou favores políticos, a chance é que afunde em um buraco keynesiano.

Na estória apócrifa de uma visita à China de Deng Xiaoping no início dos anos 1980, o economista Milton Friedman questionou o engenheiro de um canteiro de obras de uma represa: “Por que não fornecem tratores em vez de pás aos trabalhadores?”. “Porque precisamos gerar empregos”, respondeu o engenheiro. “Ah”, disse Friedman, “pensei que queriam fazer uma represa; se o objetivo é criar empregos, melhor trocar as pás por colheres!”

O gasto do governo em razão do coronavírus está gerando um “crowding out” sem precedentes, uma transferência espantosa de recursos do setor privado para o governo via venda de títulos públicos. O governo terá déficit adicional de R$ 400 bilhões em 2020. Em suma, o que o governo gastar a mais neste momento o setor privado investirá a menos!

Por causa do “crowding out”, as taxas de juros sem risco de médio prazo subiram de 6,5% para 9%, a despeito do esforço do Banco Central em baixar taxas. Os efeitos dessa alta sobre emprego e renda todos sabemos.

Guedes imagina um normalmente bem-vindo corte de impostos estilo Reagonomics. Mas, neste momento de explosão de dívida, aumentará o efeito perverso do “crowding out”, um tiro no pé Bolsonomics. Antes dos impostos, é preciso cortar gastos, em especial da folha de R$ 1 trilhão de funcionários públicos de todas as esferas. E isso Rogério Marinho não quer.

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