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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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A tirania da métrica

Para historiador, ela é importante, mas não substitui o julgamento

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Se, como gostam de dizer os físicos, só conhecemos aquilo que podemos medir, então estamos fritos. Essa é, “mutatis mutandis”, a conclusão do historiador Jerry Z. Muller em “The Tyranny of Metrics” (a tirania da métrica).

Não é que Muller seja um daqueles professores de humanidades refratário a toda forma de mensuração e avaliação. Pelo contrário, ele afirma que, em muitas situações, a métrica é importante. Seu ponto central é que ela não substitui o julgamento.

A própria escolha daquilo que será medido já pressupõe um juízo valorativo. Se isso não fica explícito, é grande o risco de que se tome a numeralha resultante —frequentemente aquilo que é fácil de medir, em contraposição àquilo que seria importante medir— como um valor objetivo e incontestável em vez de uma opção.

Ainda pior, quando lidamos com seres conscientes e não com coisas e ainda vinculamos à métrica uma série de vantagens para os profissionais envolvidos, como aumentos salarias, promoções e prestígio, estamos criando as condições que irão perverter a medida. Trocando em miúdos, as pessoas vão fazer o que puderem para aparecer sempre ao lado de números garbosos, desvirtuando assim o propósito da avaliação e às vezes até cometendo fraude.

No que constitui a parte mais interessante do livro, Muller mostra como essas perversões se materializaram em campos tão diversos como educação, medicina, polícia, Forças Armadas, finanças. 

Se o aumento do professor passa a ser determinado pelos resultados de seus alunos nos testes padronizados, o mestre vai se dedicar principalmente a “ensinar para a prova”, abandonando outros aspectos da atividade educacional que talvez sejam mais importantes. Isso no cenário benigno. No menos virtuoso, ele poderá marcar as respostas certas no lugar do aluno. Há registro de casos assim.

O livro é instrutivo, mas peca, a meu ver, por não enfatizar o bastante as muitas situações em que a métrica mais ajuda do que atrapalha.

Capa do livro 'The Tyranny of Metrics', de Jerry Z. Muller - Divulgação

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