Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hipócrates doidão

Maconha não é remédio, é uma droga psicoativa especialmente complexa

Maconha produzida em Seattle (EUA)
Maconha produzida em Seattle (EUA) - Jason Redmond - 30.jun.14/Reuters

Dar o aval médico para o consumo de uma droga com potencial de provocar dependência é sempre complicado. A maior prova disso é o problema do abuso de opioides nos EUA.

A epidemia teve origem na extrema liberalidade com que médicos americanos passaram a prescrever analgésicos dessa categoria ao longo dos anos 2000. É verdade que eles se sentiam autorizados a fazê-lo por pesquisas e consensos de especialidades, mas, como se vê agora, os dados se baseavam em ciência de má qualidade, influenciada pelos interesses da indústria farmacêutica.

A crise já é responsável por mais de 60 mil mortes anuais, só por overdose, isto é, sem considerar os outros problemas de saúde que esse tipo de dependência provoca. Para dar uma ideia do tamanho do desastre, 60 mil é o número de assassinatos que ocorrem anualmente no Brasil, gerando sempre manchetes hiperbólicas.

Faço essas considerações não a propósito dos opioides, mas da maconha. Sou totalmente a favor da descriminalização e posterior legalização de todas as drogas, mas, se há uma estratégia de ação que me parece ruim, é a de defender a liberação da maconha com base em suas propriedades medicinais. Nos EUA, 20 estados autorizam o uso da erva por razões de saúde, contra nove estados mais o distrito de Washington que a permitem para fins recreativos.

Maconha não é remédio. Ela é uma droga psicoativa especialmente complexa, que produz uma cascata de efeitos no corpo humano. Alguns deles têm usos para a medicina, mas a maioria apenas provoca agravos à saúde dos usuários. De um modo geral, são danos menores, mas, para alguns consumidores com predisposições genéticas, as consequências podem ser devastadoras.

Não convém misturar as coisas. Se alguém quer curtir o barato da maconha ou de outra droga, não deveria ser impedido pelo Estado de fazê-lo. Mas também não é o caso de buscar a sanção da medicina para algo que faz muito mais mal do que bem.
 

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