Siga a folha

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Os enxeridos e o aborto

Militar no antiabortismo põe em dúvida os propósitos e os poderes do Criador

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Até entendo que a vontade de controlar a vida alheia seja um impulso ancestral. No Pleistoceno, período em que nossos cérebros foram forjados pela evolução darwiniana, não havia nada parecido com polícia ou sistema judicial. O que prevenia o acirramento de conflitos e garantia a coesão do grupo era todo mundo se metendo na vida de todos.

O mundo mudou do Pleistoceno para cá, mas o hábito do enxerimento ficou. Não vivemos mais em comunidades de algumas dezenas de indivíduos, quase todos aparentados, mas em sociedades de vários milhões de pessoas, com os mais variados valores e backgrounds culturais. A melhor maneira de promover a paz social hoje é deixar que cada um viva à sua maneira, usando leis e aparato de segurança apenas para evitar que as pessoas resolvam suas diferenças no muque.

Faço essas considerações a propósito do projeto de lei em discussão na Argentina que poderá legalizar o aborto a pedido da mulher. Se há algo que jamais entendi é o porquê de os religiosos se mobilizarem contra a liberação do procedimento.

Religiosos têm todo o direito de considerar que o aborto seja um pecado grave, equiparável ao assassinato. São livres também para jamais abortar. Não vejo, contudo, razões para se engajarem em campanhas para criar ou manter a proibição.

Na lógica religiosa, Deus nos impôs um rígido código moral e uma de suas obsessões é distribuir castigos e recompensas conforme nossas ações se adéquem ou não a esse código. E ele é onipotente, o que significa que não precisa da ajuda de ninguém para cumprir seus próprios desígnios. Militar no antiabortismo torna-se assim quase que uma blasfêmia, pois põe em dúvida os propósitos e os poderes do Criador.

É do próprio presidente da Argentina, Alberto Fernández, o argumento definitivo para a questão do aborto em tempos não pleistocênicos: "Para quem é contra o aborto, uma solução simples, não aborte".

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar o acesso gratuito de qualquer link para até cinco pessoas por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas