Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu Televisão

'Sex and the City' e a volta das que não foram

A imperfeição daquelas mulheres é o que as liberta da condição de vítimas

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Nunca imaginei que a série "Sex and the City", depois de mais de 25 anos de sua estreia, em 1998, voltaria a ser um assunto relevante. Relevante, sim, ainda que muitas feministas —como eu, até pouco tempo atrás— insistam em reduzir a série a uma saga fútil, datada e "machocentrada", protagonizada por Carrie Bradshaw, uma escritora movida a paixões que relata, ao longo de seis temporadas, suas desventuras amorosas.

Duas décadas se passaram para que eu pudesse compreender o valor dessa série como um marco da representação feminina na cultura de massas dos anos 90. Uma narrativa protagonizada por mulheres imperfeitas, quatro amigas em uma das maiores metrópoles do mundo: Nova York, também conhecida como Big Apple —sendo a maçã um dos símbolos mais antigos do amor, tão presente em mitos e contos de fadas.

Cada personagem, à sua maneira, vive os conflitos internos e externos de uma mulher solteira contemporânea. Carrie, transitando no campo minado dos flertes e paixões intensas. Charlotte, assombrada por um ideal de amor romântico e pela busca de um casamento perfeito. Samantha, adepta do sexo casual sem qualquer responsabilidade afetiva. E Miranda, com seu hiperfoco na carreira e uma visão excessivamente crítica acerca de relacionamentos.

Desenho estilizado das 4 personagens da série 'Sex and the City', usando vestidos pretos sobre um fundo rosa
Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 29 de abril de 2024 - Silvis

Esse grupo heterogêneo de amigas busca retratar como as mulheres reagem, de formas diferentes, à pressão social para encontrar um parceiro. O objetivo romântico é, de fato, um carma secular de personagens femininas na ficção. Assim foi construída uma referência extremamente limitante e idealizada do amor romântico, especialmente para o gênero feminino.

Mas isso não é justificativa para transformar o assunto em tabu e excluí-lo das narrativas protagonizadas por mulheres. Pelo contrário, precisamos encarar, nas telas, os desafios enfrentados por mulheres para se relacionar plenamente sem abrir mão da própria autenticidade.

Em "Sex and the City", nenhuma das personagens, a princípio, consegue desfrutar de uma vida afetiva satisfatória. Não porque "nenhum homem presta" e sim porque elas também se sabotam. Cada uma em um extremo, seja idealizando (nos casos de Carrie e Charlotte), seja vilanizando o amor romântico (nos casos de Samantha e Miranda), porque foram levadas a agir dessa maneira. É a imperfeição dessas mulheres que as liberta da condição de vítimas.

São seus erros e aprendizados que as afirmam como sujeito do amor, e não objeto. E isso, por si só, já é o suficiente para considerar a série transgressora.

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