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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

A ética do placebo

Voluntários devem poder receber a vacina para a qual contribuíram

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A rapidez com que o mundo desenvolveu mais de uma vacina eficaz contra a Covid-19 gerou um inesperado problema ético para os estudos sobre os imunizantes, que seguem sendo importantíssimos.

Até aqui, as vacinas que chegaram à fase 3 foram todas testadas contra placebo, cujo uso é um dos capítulos mais controversos da bioética. Em geral, com base na Declaração de Helsinki e nos princípios da beneficência e da não maleficência, admite-se a utilização de placebos apenas quando não existe nenhum tratamento para a moléstia ou quando ela não é capaz de causar impactos muito negativos na saúde dos voluntários. Se esse, pelo primeiro item, era o caso da Covid-19, deixou de ser assim que se comprovou a eficácia das primeiras vacinas.

Para uma corrente dos bioeticistas, o sigilo do duplo-cego deve agora ser aberto, e os voluntários que receberam placebo deveriam ter a opção de ser vacinados imediatamente (nem todos os protocolos de pesquisa preveem isso). Novos ensaios devem ser feitos não mais em comparação com placebos, mas com imunizantes de eficácia já comprovada.

Outros especialistas afirmam que o uso de placebo é mais informativo do que a comparação com outros fármacos e há interesse científico em manter o grupo controle por períodos mais extensos. Os voluntários são livres para, a qualquer tempo, abandonar o estudo e tomar a vacina, se ela estiver disponível.

Eu me inclino mais pela primeira opção, embora não esteja entre os que fazem restrições fortes ao placebo. Meu ponto é que os voluntários já deram a sua contribuição e devem ter a oportunidade de receber a vacina para a qual contribuíram. Fazê-lo pode provocar alguns ruídos nos dados, mas não inviabiliza as pesquisas nem o avanço do conhecimento.

Pelo contrário, ao mostrar que o sistema é escrupulosamente ético, facilita o recrutamento de voluntários para a pesquisa médica em todas as suas vertentes.

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