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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Realidade não passa de uma alucinação compartilhada

Nossos cérebros percebem o mundo de acordo com suas expectativas prévias

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Não são poucos os neurocientistas que estão convencidos de que a percepção, e, em última instância, a própria realidade, não passa de uma alucinação controlada, mas, para não chocar muito o público, tendem a dizer isso tom semijocoso. Anil Seth, autor de "Being You" (sendo você), diz com todas as letras que a alucinação é mesmo a base de nossa consciência. Apenas enfatiza que o termo "controlada" é uma parte importante da equação.

Manter-se vivo não é tarefa para amadores. Evitar predadores, encontrar sustento e reproduzir-se exige de cada animal que ele antecipe perigos e oportunidades. Da modesta ameba que percebe e busca alimentos aos sofisticados seres humanos, bichos desenvolvemos sentidos como visão, audição, ecolocação que transformam instâncias da realidade em experiências subjetivas, as quais nos fazem agir de modo a reduzir as incertezas da vida.

Mas o mundo é um lugar complexo. Os sinais captados pelos sentidos vêm em quantidades brutais, cheios de descontinuidades, são frequentemente contraditórios e podem não significar nada sozinhos. Há algo de tautológico, mas nossos cérebros organizam essa bagunça fazendo com que percebamos o mundo de acordo com suas expectativas prévias. O controle é muito mais de cima para baixo —isto é o cérebro dizendo aos sentidos como as coisas devem ser percebidas— do que os sentidos informando livremente o cérebro.

Nesse contexto faz sentido descrever a percepção como uma alucinação. A realidade nada mais é do que aquelas percepções sobre as quais todos estamos de acordo. E a inversa também vale. O delírio é a percepção descontrolada.

Partindo disso, Seth escreveu um excelente livro, que, sem abusar do jargão da neurociência, oferece um interessante modelo para pensarmos a consciência. Há belas incursões pela filosofia. Seth até reabilita a distinção númemo-fenômeno de Kant, um autor que não envelheceu muito bem.

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman de 5.jun - Annette Schwartsman

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