A consciência é um tema em voga. A Amazon americana traz mais de 40 mil livros em que a palavrinha aparece no título. “The Consciousness Instinct” (o instinto da consciência), de Michael Gazzaniga, é mais um deles. Mas dois elementos tornam essa uma obra especial, que se destaca em meio ao mar de escritos sobre o assunto.
O primeiro é o autor. Gazzaniga é um pioneiro da neurociência, na pesquisa e na divulgação. Seus trabalhos sobre pacientes cujos hemisférios cerebrais não se comunicam foram determinantes para o avanço da disciplina. Já escreveu mais de uma dezena de livros destinados ao público leigo, que conseguem ser ao mesmo tempo profundos e didáticos.
O segundo é que “The Consciousness...” traz ideias novas. Aos 78 anos, Gazzaniga continua procurando respostas para perguntas difíceis e não cessa de ampliar seus horizontes de busca. Agora ele recorre também à filosofia e à física para tentar explicar como neurônios podem produzir uma mente consciente.
Gazzaniga começa o livro de modo até careta, com um apanhado de como filósofos trataram o problema mente-corpo, e vai para a neurociência. A um dado momento, traz a física quântica. Normalmente, recorrer à física quântica para falar de consciência é sinônimo de baboseiras “new age”, mas o autor consegue fazê-lo sem evocar nenhum dos aspectos muito fantasmagóricos dessa teoria.
Ele se concentra na complementaridade, que é o princípio segundo o qual determinadas propriedades de um objeto não podem ser observadas simultaneamente (posição e momentum, por exemplo). O DNA teria essa característica de ser ao mesmo tempo e irredutivelmente uma estrutura física (é feito de carbono) e simbólica (encerra códigos genéticos arbitrários).
Gazzaniga acredita que esse pode ser um caminho para explicar a dualidade mente-corpo. Controverso, mas estimulante.
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