Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
A aurora de tudo
Livro pretende mudar a história da pré-história
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"The Dawn of Everything" (a aurora de tudo), de David Graeber e David Wengrow, é um livro que pretende mudar a história da historiografia —e em alguma medida consegue. O alvo primário dos autores é a noção de que a história humana se divide em antes e depois da agricultura. Na fase anterior, o suposto estado de natureza, as pessoas viviam de forma igualitária em bandos de coletores-caçadores de até uma centena e meia de indivíduos. Depois da agricultura, vieram os excedentes de produção e, com eles, as classes sociais, as cidades, o Estado e a opressão.
Para os Davids (Graeber infelizmente morreu pouco depois da publicação), essa noção, defendida, entre outros, por Jared Diamond, Steven Pinker e Yuval Harari, se ancora muito mais em tradições filosóficas que remontam principalmente a Hobbes e Rousseau do que em evidências históricas. E aí eles nos apresentam a um festival de achados arqueológicos e antropológicos recentes que contam uma história diferente. A agricultura não veio como uma força irresistível. Vários povos a recusaram e nem por isso deixaram de erigir grandes cidades, que não trazem sinais de estratificação social.
Só a descrição desses achados já renderia um livro fascinante. Mas Graeber e Wengrow vão além. Produzem também sua própria narrativa, segundo a qual sociedades humanas foram em várias ocasiões capazes de tomar decisões conscientes sobre sua forma de organização política e rejeitaram sistemas que resultariam em divisões sociais. Essa tese é, por óbvio, controversa e foi claramente inspirada pelas ideias anarquistas dos autores (Graeber ajudou a organizar o Occupy Wall Street).
Ao menos para mim, é difícil não simpatizar com o antiautoritarismo, mas não vejo como escapar a uma conclusão melancólica. Adaptando o chiste de Enrico Fermi sobre extraterrestres, se civilizações ricas, igualitárias e antiestatistas são tão comuns, onde estão elas?
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