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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Até onde vai a responsabilidade dos cientistas?

Se há verdade inconveniente, é melhor lidar com consequências do que censurar

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Cientistas são responsáveis pelo uso que se faz de suas descobertas? Colocando a coisa de forma bastante concreta, físicos deveriam ter renunciado a desvendar os segredos dos átomos porque esse conhecimento poderia levar às bombas nucleares? Puxando a brasa para as humanidades, devemos pôr na conta de Marx atrocidades que ditaduras comunistas cometeram evocando suas ideias?

Faço essas perguntas por causa de um editorial recente da "Nature Human Behaviour" que está causando polêmica. Resumindo muito o argumento, a peça afirma que as diretrizes éticas estabelecidas, notadamente aquelas relativas a raça, gênero e orientação sexual, se aplicam não só às pessoas que serviram como sujeitos de pesquisa mas também a indivíduos e grupos que não tiveram participação direta. A implicação, claramente expressa pelos editores, é que artigos poderão ser recusados e até anulados, se se considerar que suas conclusões, ainda que involuntariamente, estigmatizam grupos ou enfraquecem direitos.

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman, publicada na Folha de S.Paulo em 11 de setembro de 2022 - Annette Schwartsman

Esse me parece um passo epistemologicamente complicado. Podemos e devemos restringir nossas ações por diretrizes éticas, mas daí não se segue que a natureza tenha de ser politicamente correta. Se houver alguma verdade inconveniente atuando no mundo natural, é melhor descobrir isso e lidar com as consequências no plano ético, não censurar a busca do conhecimento.

No mais, a ética é sempre local e temporalmente circunstanciada. Segundo as diretrizes éticas firmemente estabelecidas no século 19, a homossexualidade era inaceitável. Pela lógica da Nature, uma pesquisa de 200 anos atrás que concluísse não haver nada de errado com o sexo entre iguais deveria ser vetada.

O bonito da ciência é que ela é imprevisível. O mesmo conhecimento que criou as destrutivas bombas atômicas permite gerar eletricidade sem CO2 como subproduto, o que poderá ser a salvação da civilização diante do aquecimento global.

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