Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Hélio Schwartsman

Somos todos masoquistas

Uma de nossas obsessões é dar sentido para as coisas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O esquema vitorioso da seleção natural para motivar bichos é fazer com que eles busquem o prazer, gerado por atividades favoráveis à propagação dos genes, como comer, beber e copular, e evitem a dor, que carrega as marcas do perigo. Mas, com seres humanos, a coisa é mais complicada.

Somos uma espécie que, em muitas situações, procura deliberadamente a dor e o risco, do que dão testemunho praticantes de BDSM (sexo sadomasoquista e variantes), entusiastas de esportes radicais, fãs de filmes de terror e comedores de pimenta. Há até aqueles que têm filhos.

É esse mistério que o psicólogo Paul Bloom tenta resolver em "The Sweet Spot" (o ponto ideal), seu mais recente livro. Bloom mostra que alguns desses hábitos ainda têm uma explicação hedônica ou, pelo menos, material. O cara que consegue escalar o Everest sofre, pode perder alguns dedos, mas, quando volta, ganha prestígio social, que pode se converter em dinheiro, que compra prazeres. Há ampla literatura sugerindo que experiências controladas, como as produzidas por brincadeiras e pela ficção (livros, filmes), servem como adestramento para enfrentar problemas futuros. Já o gosto pela pimenta, esse é mesmo mais enigmático.

O ponto de Bloom é que seres humanos, ao contrário de outros bichos, nos pautamos pelo pluralismo motivacional, isto é, nos deixamos levar por um complexo emaranhado de desejos e impulsos muitas vezes contraditórios entre si. E uma de nossas obsessões é dar sentido para as coisas, incluindo nossas próprias vidas. Uma vida levada inteiramente na maciota nos parece vazia.

Para que ela ganhe significado, precisamos adicionar-lhe algumas perdas, muito esforço e pitadas de ansiedade. É sob esse esquema que a busca pela dor pode fazer algum sentido. Ela dá significado a nossas vidas —e nós sentimos muita dor ao imaginar que nossas vidas não têm significado.

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman de 13.fev.2022
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman de 13.fev.2022 - Annette Schwartsman

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.