São quatro filósofas de primeira linha, que não poderiam ser mais diferentes. Elizabeth Anscombe era católica fervorosa, daquelas de fazer piquete na porta de clínicas de aborto. Foi a pupila favorita de Wittgenstein. Philippa Foot pertencia à nobreza transatlântica. Seu pai era da aristocracia britânica, e a mãe, filha do presidente Grover Cleveland, dos Estados Unidos. Para defender o aborto em algumas situações, criou a "trolleyologia", que se tornou um profícuo campo de reflexão ética. Mary Midgley conciliou a filosofia da biologia com a ética e a militância pelos direitos dos animais. Iris Murdoch era comunista. Voluntariou-se para espionar para os soviéticos. Levou o existencialismo francês para as ilhas britânicas. Destacou-se também pela extensa produção de romances e pelos amantes, homens e mulheres, que colecionou.
Elas se conheceram na graduação na Universidade de Oxford, durante a 2ª Guerra, e, apesar das diferenças, se mantiveram amigas por toda a vida. "The Women Are Up to Something" (as mulheres estão tramando algo), de Benjamin Lipscomb, conta as histórias dessas mulheres. Mostra as muitas dificuldades que enfrentaram. Na avaliação da própria Midgley, elas só puderam crescer como filósofas porque a universidade se vira sem homens, que haviam ido para a guerra. Quando eles voltaram, elas estavam lá.
Lipscomb sustenta que o quarteto promoveu uma revolução na filosofia ética. Ao rejeitar o paradigma de autores como Ayer e Hare, que insistiam na impossibilidade de extrair valores de fatos —o que nos deixaria perigosamente perto do relativismo—, elas abriram caminho para o que mais tarde ficou conhecido como éticas da virtude, nas quais a preferência por certos valores e não outros surge como uma faceta de nossa racionalidade ou da própria biologia. Elas teriam reumanizado a ética. A tese de Lipscomb não é incontroversa, mas o livro definitivamente vale a pena.
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