Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Mulheres na filosofia

A história de quatro mulheres que teriam revolucionado a filosofia ética

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São quatro filósofas de primeira linha, que não poderiam ser mais diferentes. Elizabeth Anscombe era católica fervorosa, daquelas de fazer piquete na porta de clínicas de aborto. Foi a pupila favorita de Wittgenstein. Philippa Foot pertencia à nobreza transatlântica. Seu pai era da aristocracia britânica, e a mãe, filha do presidente Grover Cleveland, dos Estados Unidos. Para defender o aborto em algumas situações, criou a "trolleyologia", que se tornou um profícuo campo de reflexão ética. Mary Midgley conciliou a filosofia da biologia com a ética e a militância pelos direitos dos animais. Iris Murdoch era comunista. Voluntariou-se para espionar para os soviéticos. Levou o existencialismo francês para as ilhas britânicas. Destacou-se também pela extensa produção de romances e pelos amantes, homens e mulheres, que colecionou.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 20 de março de 2022, mostra uma cena ao ar livre. Em primeiro plano há um grupo de quatro jovens mulheres sentadas sobre uma pedra em um gramado. Ao fundo, um prédio antigo rodeia o gramado. Elas usam roupas dos anos 40 e 50. A moça da esquerda tem pele clara, cabelos castanhos e usa saia cor de vinho, casaco azul escuro e sapatos marrons; ela segura alguns livros e cadernos sobre o colo e apoia o queixo sobre a mão direita. Ao seu lado, a segunda moça, também clara e de cabelos pretos, usa saia bordô, casaco casaco cinza e sapatos marrons. A terceira jovem também é clara e tem os cabelos castanhos; ela usa saia amarela, casaco azul claro e sapatos bicolor preto e branco. A quarta e última moça também tem pele clara e cabelos pretos; ela usa saia grafite, casaco rosa e sapatos marrons.
Ilustração de Annette Schwartsman - Annette Schwartsman

Elas se conheceram na graduação na Universidade de Oxford, durante a 2ª Guerra, e, apesar das diferenças, se mantiveram amigas por toda a vida. "The Women Are Up to Something" (as mulheres estão tramando algo), de Benjamin Lipscomb, conta as histórias dessas mulheres. Mostra as muitas dificuldades que enfrentaram. Na avaliação da própria Midgley, elas só puderam crescer como filósofas porque a universidade se vira sem homens, que haviam ido para a guerra. Quando eles voltaram, elas estavam lá.


Lipscomb sustenta que o quarteto promoveu uma revolução na filosofia ética. Ao rejeitar o paradigma de autores como Ayer e Hare, que insistiam na impossibilidade de extrair valores de fatos —o que nos deixaria perigosamente perto do relativismo—, elas abriram caminho para o que mais tarde ficou conhecido como éticas da virtude, nas quais a preferência por certos valores e não outros surge como uma faceta de nossa racionalidade ou da própria biologia. Elas teriam reumanizado a ética. A tese de Lipscomb não é incontroversa, mas o livro definitivamente vale a pena.

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