Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
Até que ponto Lula deve ser pragmático?
Se passam a ideia de que tudo está à venda, políticos desmoralizam a si mesmos
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Apesar de a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, ter ganhado uma sobrevida, tudo indica que o presidente Lula acabará atendendo aos apelos do centrão e a trocará por Celso Sabino. Se é lícito imprimir alguma picância à descrição, Lula substituiria uma aliada de primeira hora e que tem entrada no público evangélico por um bolsonarista. Há também uma boa chance de a Embratur, hoje presidida por Marcelo Freixo, figura icônica da esquerda, ser cedida ao grupo de Arthur Lira.
Sabe-se que a ingratidão é um dever do político, mas, mesmo assim, acho que vale perguntar até onde deve ir o pragmatismo de um governante. Como bom consequencialista, não me oponho às negociações, compromissos e até a algum toma lá dá cá. Se todo mundo for lutar até o fim pelo que acha que é certo, o resultado seria a guerra civil. A democracia funciona porque põe os principais atores políticos para conversar, aplainando as arestas e reforçando os pontos comuns.
Ocorre que, também por razões consequencialistas, dirigentes e partidos precisam zelar por uma identidade reconhecível. Se passam a ideia de que tudo está à venda, desmoralizam a si mesmos e à própria atividade política. Foi o que aconteceu com o outrora combativo MDB, que enfrentara a ditadura. O próprio PT experimentou um pouco disso após ver-se envolvido em escândalos de corrupção. O consequencialismo não pode olhar só para os efeitos imediatos; precisa avaliar também as implicações mais difusas das escolhas.
O melhor modo de enfrentar a situação, creio, é reabrir negociações com o centrão, mas preservando esferas de influência que possibilitarão ao governo conservar uma feição discernível. Minha sugestão é que a pauta ambiental e de direitos humanos esteja entre as prioridades. Embora haja resistência no centrão a essa agenda, ela tem a vantagem de agregar apoio internacional e de setores que vão além do PT e da esquerda em geral.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters