Daniela Carneiro fala com Lula e ganha sobrevida em ministério apesar de pressão

'Está tudo sob controle', disse a ministra do Turismo depois, ao chegar para audiência na Câmara

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Brasília

O presidente Lula (PT) se reuniu nesta terça-feira (13) com a ministra do Turismo, Daniela Carneiro e disse a ela que há um pedido explícito pelo cargo que ocupa. Por isso, segundo relatos de integrantes do Palácio do Planalto, o presidente explicou que a situação da ministra é muito difícil.

A União Brasil pressiona o Palácio do Planalto a substituir Daniela pelo deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) após Lula negociar mudanças na articulação política em troca de ampliar a base política na Câmara.

A ministra, no entanto, permanece no cargo, pelo menos momentaneamente. Integrantes do Planalto ressaltam ainda que, por ela ter pedido ao TSE desfiliação da União Brasil, o partido ampliou a requisição pela troca na pasta do Turismo.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também esteve no encontro, assim como o marido de Daniela, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho.

Lula e Daniela Carneiro durante anúncio da deputada para o comando do Ministério do Turismo - Pedro Ladeira-29.dez.22/Folhapress

Após o término do encontro, a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) informou que a conjuntura política foi tratada na reunião.

Ainda acrescentou que a ministra comparece na tarde desta terça de uma audiência na Câmara dos Deputados e que participa, dois dias depois, de reunião ministerial no Palácio do Planalto.

Segundo interlocutores do Planalto, o governo ainda irá negociar com Daniela e Waguinha uma saída honrosa para a ministra. Lula recebeu demandas de Waguinho, como pedidos de emendas e mais recursos para sua base eleitoral, além de cargos que podem ser dados à ministra como compensação pela demissão.

Membros do governo afirmam que, em troca, Daniela poderá ganhar o poder de indicar nomes para cargos da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e hospitais federais no Rio de Janeiro.

Além das questões da ministra e do marido dela, o Planalto ainda quer arredondar as conversas com a União Brasil, inclusive com Sabino. O deputado ainda não se reuniu com o presidente —rito de Lula para nomear ministros.

Após o encontro no Planalto, Daniela minimizou a sua situação política. Em suas redes sociais, ela escreveu que a reunião foi para tratar dos projetos para fortalecer o turismo.

"Apresentei ao presidente Lula alguns dos projetos e ações do Ministério do Turismo para os próximos meses. Seguimos juntos no trabalho para fortalecer o turismo como vetor de desenvolvimento econômico e social do nosso Brasil", escreveu horas depois da reunião com Lula.

Interlocutores do Planalto diziam antes do encontro que a expectativa é que a ministra fosse demitida. Com a troca por Sabino, integrantes do partido prometem atrair para o governo mais votos da bancada, que tem 59 deputados.

O encontro de Lula com a ministra e seu marido durou pouco mais de uma hora. Daniela Carneiro e Waguinho saíram do Palácio do Planalto sem falar com a imprensa.

O próprio governo fez questão de divulgar que ela permaneceria no cargo e que participaria de evento na Câmara dos Deputados no mesmo dia e da reunião ministerial na próxima quinta-feira (15).

Daniela participa de audiência na Comissão de Turismo da Câmara, organizada para tratar dos planos e programas da pasta para o ano de 2023. Na chegada à Casa, Daniela afirmou que a conversa com Lula "foi muito boa, muito positiva".

"Estou à disposição do presidente, porque fui uma indicação dele, estou aqui para contribuir com o Brasil. Vamos focar o turismo, falar da importância do turismo na geração de emprego e renda, [no] desenvolvimento econômico do nosso Brasil, [no] desenvolvimento social", afirmou.

Ela disse ainda que "está tudo sob controle".

Pouco depois da reunião no Planalto, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou que é "legítima" a demanda da União Brasil em assumir o controle do Ministério do Turismo. No entanto ressaltou a importância de Waguinho e Daniela para a eleição de Lula e que por isso a solução "deve ser bem construída".

Em entrevista à GloboNews, Jaques Wagner ainda completou que ainda não existe nenhuma decisão sobre a presidência da Embratur, que também seria demandada pela União Brasil.

Reportagem da Folha mostrou que, embora a União Brasil pressione Lula por trocas no primeiro e segundo escalões, integrantes e dirigentes do partido não garantem que a legenda irá integrar a base do governo caso o petista atenda às demandas.

Em outra frente, uma ala da União Brasil ameaça levar a maior parte dos 59 deputados à oposição caso mudanças não sejam feitas.

A bancada da União Brasil na Câmara, que é alinhada ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), negocia com o Palácio do Planalto o Ministério do Turismo e a Embratur (agência de promoção do turismo). Há também pedidos do grupo de Lira para conseguir o comando e diretorias dos Correios.

Nesta segunda-feira (12), Padilha admitiu a possibilidade de trocas no primeiro escalão do governo em meio à pressão sobre Daniela.

"Governo é igual a um rali. De vez em quando, durante um rali, você tem que trocar um motorista, um pneu, o que importa é estar no caminho certo. Esse é um governo que tem um caminho, um rumo certo", disse, afirmando estar "em debate" a discussão com a União Brasil, "que avalia a necessidade de reformulação dos seus indicados".

O presidente da União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), disse à Folha que o partido não pleiteia nenhum ministério específico, mas considera natural que o governo busque melhorar o ambiente com o Congresso. Ele admitiu, porém, que isso não significa a ida da legenda para a base.

"Isso não implica dizer que qualquer partido que tenha essa ou aquela pasta tenha uma adesão dogmática ao partido eleito", afirmou Bivar.

Sabino tem dito a aliados que, se assumir o cargo, irá trabalhar para que o partido entre formalmente para a base de Lula.

Embora tenha hoje três ministérios, a União Brasil mantém posição independente em relação ao governo. A sigla é criticada pelo entorno do presidente por não entregar votos suficientes no Congresso em pautas do Planalto.

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