Siga a folha

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Dividir para conquistar

Indicação de Pochmann para o IBGE segue lógica política, mas gera ruído sobre credibilidade do órgão

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

"Diuide et impera", dividir para conquistar. A ideia de que dá para obter ganhos políticos estimulando o dissenso, seja entre os inimigos, seja entre aliados, vem sendo utilizada desde a Antiguidade. A interpretação cínica (ou ultrapragmática) do princípio se impõe quase automaticamente, mas não é a única possível. Também dá para fazer uma leitura mais benigna, segundo a qual o bom governante procura cercar-se de conselheiros de todas as facções para promover o choque de ideias e ter a oportunidade de escolher as melhores.

Lula se valeu dessa estratégia em sua primeira passagem pelo poder. Pôs na Fazenda o neo-ortodoxo Antonio Palocci e no Planejamento o heterodoxo Guido Mantega. E Lula não estava inovando muito, já que repetia FHC, que colocara o liberal Pedro Malan na Fazenda e o desenvolvimentista José Serra no Planejamento.

Marcio Pochmann em entrevista em São Paulo - Eduardo Anizelli 23.jul.18/ Folhapress - Folhapress

Na presente encarnação, o Planejamento foi para a liberal Simone Tebet. O petista Fernando Haddad ganhou a Fazenda e se tornou rapidamente um campeão da Faria Lima. Os heterodoxos ficaram só com o BNDES, com Aloizio Mercadante. O PT, que deverá perder ministérios para o centrão, deve ter reclamado, de modo que Lula decidiu alocar Marcio Pochmann no IBGE.

Foi o que bastou para pôr os círculos liberais em polvorosa. Pochmann não é um heterodoxo qualquer, mas um particularmente ideológico (ele se opôs ao Pix por julgá-lo "neocolonial"), e que teve uma passagem complicada pelo Ipea.

Não tenho nada contra o "diuide et impera" e não acho que seja tão fácil para um presidente do IBGE interferir nas metodologias do instituto, mas creio que Lula errou nessa indicação. O IBGE não é um posto político ordinário. É um órgão de Estado com a incumbência de produzir vários números oficiais, que são tão bons quanto sua reputação de confiabilidade. Pôr à frente do IBGE uma figura que gera ruído sobre a qualidade dos dados deveria ser carta fora do baralho.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas