Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
Populismo sanitário
Lula sanciona ozonioterapia, apesar de ciência não dar aval à técnica
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Lula sancionou a lei que libera a ozonioterapia, para a qual não existem boas evidências científicas de eficácia. O Congresso e o PT não resistem a um populismozinho sanitário.
Foi sob Lula 1 que o SUS abraçou as PICs, práticas integrativas e complementares, que é o nome pomposo para um conjunto de crenças sanitárias para as quais existe pouco ou nenhum suporte científico, como aromaterapia, crenoterapia ou a cura pelo toque. E foi sob o governo Dilma que o Parlamento aprovou e a então presidente sancionou a lei que liberava a fosfoetanolamina, a famigerada pílula do câncer que não age sobre o câncer. O STF depois derrubou a norma.
Temos agora um repeteco disso com a ozonioterapia. Lula não vetou a lei, apesar de todos os órgãos técnicos terem recomendado que o fizesse.
Por que é tão fácil ludibriar pessoas, inclusive médicos, com terapias que não são melhores que o efeito placebo? A resposta, acredito, está na forma como humanos lidamos com a noção de causalidade.
A maioria das doenças que nos afetam não é imediatamente fatal. Elas têm um início, uma fase de exacerbação dos sintomas e depois desaparecem ou entram em remissão. Qualquer intervenção realizada ao longo desse processo poderá, para nossas mentes sedentas por causas, ser percebida como a responsável pelo êxito. Sob essa chave interpretativa, tudo, das pajelanças à homeopatia ou mesmo não fazer nada, funciona.
É o que explica, por exemplo, o sucesso das sangrias, um "tratamento" que mata muito mais do que cura. Não obstante, como a maior parte dos pacientes resistia tanto à doença como à "terapia", elas foram utilizadas por dois milênios.
O problema de base está nas nossas intuições de causa. Elas só funcionam para um conjunto mais ou menos limitado de fenômenos macroscópicos. Quando entramos em território estatístico ou nos mundos relativístico e quântico, elas colapsam, mas nem por isso as ajustamos.
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