Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
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Hoje eu vou dar uma contribuição para a luta de classes. Sempre que vemos um acidente envolvendo um carro de luxo e um normal, como ocorreu esta semana em São Paulo, no caso envolvendo um Porsche e um Renault Sandero, que custou a vida ao condutor do segundo veículo, presumimos, antes mesmo de conhecer os detalhes da história, que o motorista do automóvel mais caro é o responsável. Há base para tal expectativa? Provavelmente sim.
Há farta literatura mostrando que motoristas de carros mais caros tendem a ser mais agressivos e menos empáticos. A forma mais popular de aferir isso é contar o número de vezes que condutores de cada modelo param para dar passagem a pedestres. Num estudo da Universidade de Nevada, os pesquisadores constataram que a taxa de gentileza do motorista cai 3% para cada US$ 1.000 a mais no preço do veículo.
Cientistas finlandeses foram mais fundo e submeteram proprietários de carros a testes de personalidade. Embora haja grande ambiguidade nos resultados, os pesquisadores encontraram correlação positiva entre traços como teimosia, desagradabilidade e falta de empatia e a preferência por automóveis luxuosos, em geral de marcas alemãs. A interpretação desses achados é bastante especulativa, mas muitos acreditam que os donos de veículos mais caros se sentem superiores, o que produz um desligamento psicológico em relação aos demais motoristas e pedestres.
Não fico muito surpreso. A moralidade humana evoluiu no contexto de pequenas comunidades nas quais o status das pessoas, embora não fosse idêntico, não diferia tanto assim. Vivemos hoje em sociedades incomensuravelmente maiores com grupos bastante diversos. Isso é ótimo para a inovação, mas cobra um preço em coesão social. Não é um fenômeno muito diferente da rejeição à imigração, no qual a extrema direita europeia vem surfando.
Na dúvida, sempre espere a Lamborghini passar antes de atravessar a rua.
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