Descrição de chapéu Chuvas no Sul

Cidades ficam empilhadas de lixo no RS, e governo teme impacto ambiental gigantesco

A previsão em alguns municípios é que as enchentes gerem mais lixo do que geralmente se recolhe em um ano inteiro

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São Leopoldo (RS) e Porto Alegre

As enchentes no Rio Grande do Sul devastaram casas, indústrias e comércios e deixaram como protagonista do cenário de destruição o acúmulo de lixo pelas ruas. Em locais ainda alagados, há dejetos boiando e, em algumas partes, a água fica ainda mais turva pela contaminação por óleo de carros submersos e produtos químicos de empresas da região.

Depósito de lixo temporário recebe entulho descartado pela população após as enchentes que inundaram milhares de casas em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre - Pedro Ladeira/ Folhapress

Em áreas secas, pessoas limpam suas residências e deixam para o lado de fora móveis e eletrodomésticos impossíveis de serem reaproveitados.

Para se ter uma ideia, a Prefeitura de Canoas, cidade vizinha de Porto Alegre que tem 348 mil habitantes e foi uma das mais afetadas, estima que a parte alagada irá gerar 120 mil metros cúbicos de lixo.

A região sob água corresponde a cerca da metade do município. Geralmente, a cidade inteira gera de 8 a 9 mil metros cúbicos por mês.

As enchentes do ano passado no estado geraram cerca de 100 mil toneladas de resíduos. A tragédia de 2023, no entanto, não atingiu nem um terço do número de cidades afetadas desta vez.

Para este ano, ainda não há estimativa do montante de lixo que ficará de herança da tragédia. O fato de muitas regiões seguirem alagadas dificulta o cálculo, uma vez que em muitas cidades a água permanece alta e ainda não se tem uma ideia exata do tamanho do estrago das chuvas.

Um dos problemas enfrentados por gestões municipais é fazer a separação do lixo —dejetos orgânicos e recicláveis se misturaram durante as enchentes.

As enchentes no Rio Grande do Sul já causaram ao menos 161 mortes e há 85 pessoas desaparecidas. Mais de 20 dias após o início das chuvas, ainda há cidades alagadas e municípios com cenários de destruição.

A secretária de Meio Ambiente do governo do RS, Marjorie Kauffmann, afirma que tem orientado prefeituras, que são responsáveis pelo serviço de limpeza urbana, a melhor forma de destinar os lixos para mitigar os efeitos ambientais.

"Nós acreditamos que o impacto dos resíduos que vão sobrar da enchente são gigantescos", afirma.

Ela cita dois desafios para este momento. Um deles diz respeito a dejetos de grandes empresas. "Temos aqueles resíduos perigosos, oriundos da indústria, que devem receber tratamento especial", alerta.

Nesse caso, a orientação é fazer contato com a Fundação de Proteção Ambiental para receber recomendação sobre a destinação adequada.

Outra preocupação é encontrar um local para levar todos os dejetos. "Uma equipe está fazendo a coleta da informação geográfica dos pontos de deposição temporário, para que a gente possa monitorar esses pontos que são de atenção do ponto de vista ambiental".

Em Canoas, o governo local separou uma área específica e conseguiu um licenciamento ambiental para o enterro de animais mortos pela enchente.

Área com lixo em Vicentina, bairro de São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre
Área com lixo em Vicentina, bairro de São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre - Pedro Ladeira/Folhapress

"Foi aberta uma vala, com drenagem, com tudo que era requisito para ter os laudos, para esse fim", diz o secretário de Serviços Urbanos, Lucas Lacerda.

A Prefeitura também fez uma contratação emergencial para destinar entulhos volumosos, como guarda-roupas, sofás e mesas, que é "o que causa impacto".

"Os materiais de utensílios domésticos, tudo aquilo que não é lixo orgânico, nós estamos levando para Gravataí, que é outra cidade na região metropolitana de Porto Alegre", afirma Lacerda

Os municípios improvisaram aterros e também estudam locais fora do estado para levar os dejetos. Até regiões de Santa Catarina entraram na mira. Em São Leopoldo, os dejetos estão sendo encaminhados para um terreno improvisado ao lado de uma das sedes do governo local.

Em Porto Alegre, a dificuldade para levar o lixo ao espaço adequado foi ainda maior porque o aterro sanitário fica em Minas do Leão, um município próximo que ficou alagado e com acessos bloqueados.

O governo local teve que transferir os dejetos para uma estação na própria cidade. Em cinco dias, só de coleta domiciliar foram 10 mil toneladas de lixo

"Só para ter ideia da operação gigantesca desse momento, depois que a conexão com Minas do Leão foi restabelecida, começamos a levar 90 carretas que pesam 20 toneladas e transporta 30 toneladas de lixo", afirma o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, Carlos Alberto Hundertmarker.

Ele diz que carros com alto falantes têm rodado a cidade para pedir que as pessoas despejem seus móveis nas calçadas para posterior recolhimento.

A prefeitura publicará no Diário Oficial um expediente para contratar um novo aterro a fim de dar conta de toda a demanda e considera difícil nesse momento prever uma data para finalizar a operação relacionada ao lixo decorrente das enchentes.

A orientação das autoridades é que as pessoas tomem cuidado com objetos encontrados em suas residências, pois podem estar contaminados pelas águas dos alagamentos.

"Memórias, documentos e fotografias se perderam nessa tragédia. Eu passo o dia todo na rua dando apoio aos colaboradores e encontramos muita coisa triste, carteira de trabalho, certidões de nascimento rasgadas, fotos de família, lembranças", relata Hundertmarker.

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