Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
Pragmatismo espacial
Projeto da Nasa de retomar voos tripulados à Lua está levando a cortes de verbas em outros programas
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Deu no Mensageiro Sideral, o indispensável blog astronômico de Salvador Nogueira: os planos da Nasa para voltar à Lua com uma missão tripulada até o fim da década estão pressionando o orçamento da agência, que compensa cortando verbas de outros programas, notadamente os telescópios espaciais.
Decidir a destinação de dinheiro para a ciência é algo próximo de um exercício impossível. É que com frequência comparamos bananas com laranjas. O que é mais importante? Estudar a fisiopatologia de uma doença tão devastadora quanto a malária ou desvendar os segredos das partículas subatômicas? Quando lidamos com incomensuráveis, é difícil até esboçar uma resposta que seja objetiva e consistente.
Para os dilemas da Nasa, porém, eu creio que a resposta existe. Entusiastas das missões tripuladas vão discordar, mas não consigo reprimir meu pragmatismo. Não nego que levar o homem à Lua e além possa gerar conhecimento e tecnologias úteis, mas o principal apelo para fazê-lo é satisfazer a obsessão humana em produzir narrativas em que sejamos os heróis --uma forma de busca pela transcendência.
Se o preço a pagar por esse tipo de extravagância psicológica fosse reduzido, eu não teria nada a opor. Mas não é. Uma missão tripulada, especialmente uma que pretenda trazer os astronautas de volta em segurança, custa proibitivamente mais do que voos e programas não tripulados, que têm gerado toneladas de conhecimento relevante. A astronomia era uma antes dos telescópios espaciais e passou a ser outra depois. Aliás, não só a astronomia. A cosmologia também avançou significativamente com esses aparelhos. Algo parecido vale para as missões de sondas.
Eu receio que, dada a vastidão do Universo, a ideia de colonizar outros mundos jamais passará de uma fantasia. E não precisamos tirar pessoas da Terra para fazer avançar nosso conhecimento sobre o Universo. É a transcendência possível.
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